O governador do Rio briga para impedir mudança de
voos do Aeroporto Tom Jobim para o Santos Dumont
Ronaldo Soares
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem |
LOCALIZAÇÃO PRIVILEGIADA O Santos Dumont, ao lado do centro do Rio, é boa opção para muitos viajantes |
Na semana passada, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) extinguiu uma portaria que, desde 2005, limitava as operações do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, à ponte aérea Rio-São Paulo. A decisão irritou o governador Sérgio Cabral. A saída de linhas regionais do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), em sua visão, dificultaria as conexões para voos para o exterior, mais rentáveis. Como defende a privatização do aeroporto internacional, Cabral teme que a medida esvazie o interesse de investidores. Até aí, nada de mais. O governador tem o direito – e o dever – de incluir os aeroportos em sua estratégia de desenvolvimento econômico e de procurar influenciar nas decisões da Anac em favor do que considera ser o melhor para seu estado. Porém, apesar dos argumentos tecnicamente frágeis para sustentar seu ponto de vista, Cabral não se conteve. Ele usou instrumentos técnicos com fins políticos, ameaçou não renovar a licença ambiental do aeroporto e acenou com o aumento de ICMS sobre os combustíveis somente para as empresas aéreas que utilizarem o Santos Dumont.
Fotos Celso Junior/AE e Sergio Lima/Folha Imagem |
CABRAL X ANAC Discussão entre o governador e a diretora Solange Vieira deixou de lado os passageiros |
Estudos preliminares da Anac mostram que a preocupação do governador é infundada. Somente 1% dos passageiros de voos internacionais que partiram ou chegaram ao Galeão, em 2007, tinha conexão com outros voos. Além do mais, a agência não está proibindo as companhias de operar no Galeão, apenas revogou a proibição de que pousem e decolem do Santos Dumont. O risco de esvaziamento do aeroporto internacional é pequeno, também, porque Guarulhos está no limite de sua capacidade para voos internacionais, e só poderá receber novos voos depois da construção de um novo terminal. E, finalmente, é importante levar em conta que existe uma parcela expressiva dos passageiros para a qual o Santos Dumont é mesmo a melhor alternativa. Principalmente aqueles que vão ao Rio a negócios. O aeroporto se situa ao lado do centro financeiro da cidade. Tanto é uma opção atraente que, desde o anúncio da liberação, as empresas aéreas manifestaram interesse em operar 47 voos para o Santos Dumont. "Não vou ficar de braços cruzados. Defendo os interesses do meu estado, da minha cidade", afirmou o governador a VEJA. Para isso, melhor seria resolver problemas graves do Galeão, como a dificuldade de transporte e a insegurança no trajeto até lá, para que ele se tornasse uma opção natural das companhias aéreas. Outra boa medida seria respeitar os limites da competência da Anac. As agências reguladoras foram criadas para impedir que conveniências políticas atrapalhem o ambiente de concorrência saudável. Atitudes como a do governador fluminense são um sério desafio à independência das agências.