A queda da soja transgênica
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A queda da soja transgênica


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E os lucros secaram...

Quem diria: os ganhos obtidos com a soja transgênica agora
são menores do que os proporcionados pelo grão natural


Raquel Salgado

Delfim Martins
Soja convencional
Lavoura em Mato Grosso: no estado, a área destinada à soja natural é maior do que a reservada à modificada pela engenharia genética

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Há quinze anos, o surgimento da soja transgênica deu início a uma revolução agrícola comparável à da década de 50, quando os agrotóxicos foram introduzidos e triplicaram a produção mundial de grãos. Para desenvolver a semente geneticamente modificada, a empresa americana Monsanto introduziu no DNA da soja um gene de bactéria resistente ao glifosato, um herbicida tão potente que dispensava a aplicação de outros agrotóxicos. Ao reduzir a necessidade de aplicação de defensivos, muito caros e nocivos à saúde, a soja transgênica mostrou-se muito mais rentável do que a natural. Essa semente chegou ao Brasil de forma ilegal em 1995. Oito anos depois, seu plantio foi autorizado pelo governo. Como a soja transgênica era mais lucrativa (veja o quadro), vários especialistas previram que ela varreria a cultura tradicional do país, como já havia acontecido nos Estados Unidos e na Argentina, os dois maiores produtores mundiais, juntamente com o Brasil. De fato, ela responde, hoje, por 58% da safra nacional. Mas, agora, apareceram entraves que ameaçam a sua expansão.

O primeiro deles é a disseminação de ervas daninhas resistentes ao glifosato. Elas reduzem a produtividade da lavoura, porque concorrem com a soja na busca de nutrientes e luz solar. Quatro anos atrás, tais pragas começaram a se espalhar pelos Estados Unidos e pela Argentina. Há duas safras, passaram a se alastrar pelas plantações brasileiras. Pelo menos quatro tipos de ervas daninhas já empesteiam os campos do país. Para evitá-las, os agricultores deveriam ter feito rodízios de cultura. Não o fizeram simplesmente porque não foram orientados adequadamente. Agora, para eliminá-las, precisam combinar o glifosato com outros agrotóxicos. "O resultado é que, nas áreas mais atingidas pelas pragas, como o norte do Rio Grande do Sul e o oeste do Paraná, o custo de produção desses grãos já é equivalente ao da soja convencional, pela qual se obtém um valor melhor no mercado", diz Fernando Adegas, pesquisador da área de soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Esse é o segundo problema da soja transgênica no país. A Europa, um dos maiores mercados para o grão, prefere o natural. Países como Alemanha, Noruega, Bélgica e Finlândia não importam produtos oriundos de sementes geneticamente modificadas e têm-se disposto a pagar mais pela soja convencional, agora restrita a 13% da produção mundial. Atualmente, o único fornecedor em larga escala do produto é o Brasil. "Na Europa, cada tonelada de soja sem transgenia recebe um prêmio de 40 dólares. Metade deles acaba no bolso dos agricultores", afirma José Enrique Marti Traver, diretor da Imcopa, empresa que beneficia e revende apenas derivados de sementes convencionais. Os europeus recusam a soja transgênica e outras sementes geneticamente modificadas por mera superstição. Acham que alimentos produzidos a partir deles podem fazer mal à saúde, embora nenhuma pesquisa científica, até o momento, tenha comprovado essa crendice. No mercado interno, a irracionalidade também tem encontrado um terreno fértil. Várias indústrias alimentícias, muitas delas multinacionais, deixaram de comprar não apenas soja transgênica, como também o milho geneticamente modificado, que começou a ser colhido no país na safra deste ano.

Apesar da rejeição, a Monsanto mantém o ritmo de suas pesquisas. Até 2012, o gigante americano pretende lançar no Brasil mais uma variedade de soja transgênica, que combinará a resistência ao glifosato com o combate às lagartas da soja. Os bichos morrerão se comerem a planta originada dessa semente. O novo grão, contudo, não conterá nenhuma defesa adicional contra as ervas daninhas que já assolam as culturas. A Monsanto acredita que a solução para esse problema depende apenas de uma mudança de comportamento dos agricultores. "É preciso que eles intercalem o plantio da soja transgênica com o de milho e demais culturas, para evitar que essas pragas se espalhem. As ervas daninhas que proliferam com a soja não convivem com outros grãos", diz o gerente de segurança de produto da empresa, Luciano Fonseca. Com um aumento de mais de 50% no preço da soja nos últimos quatro anos, os agricultores brasileiros ainda resistem a fazer essa rotação, que, aliás, é indicada para qualquer tipo de lavoura. Em vez disso, alguns já substituem a soja geneticamente modificada pela convencional, para aproveitar os melhores preços pagos pelo produto. Com superstição ou não, é o mercado que comanda




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