A queda do nº 1 - Adriano Lafetá
Política

A queda do nº 1 - Adriano Lafetá



Correio Braziliense - 03/05/2011
 

Por mais significativa que seja a morte de Osama bin Laden — a própria encarnação do terror —, vai levar mais alguns dias ou meses até que se tenha noção mais precisa da importância da retirada de cena do número um da rede Al-Qaeda. Primeiro é preciso esclarecer as circunstâncias da operação que levou até o homem mais procurado do planeta. Estarrece que, depois de quase 10 anos de busca, ele tenha sido encontrado em uma fortaleza a poucos quilômetros da capital de um dos países em que a caçada era mais intensa, numa construção monumental para o padrão local. Da mesma forma, surpreende a ausência de informações imediatas sobre a eventual ocorrência de prisões durante a tomada do bunker. 

Que batalha fundamental foi vencida no Paquistão, ninguém duvida e o mundo, bem ou mal, comemora. Mas a vitória será relativizada se a rede que se tornou a cara e a alma de Bin Laden não começar a ruir. Afinal, a esta altura, o posto já foi ocupado pelo médico egípcio Ayman al-Zawahiri, primeiro na linha sucessória e de paradeiro desconhecido, que, por sua vez, certamente também providenciou a própria substituição na hierarquia. Como a mitológica hidra do pântano contíguo ao Lago de Herna, a Al-Qaeda tem muitas cabeças e a capacidade de regenerar aquelas eventualmente esmagadas. 

Apenas mudar a face com que o horror se apresenta perante a humanidade desde 11 de setembro de 2001 não torna o mundo seguro. Melhor seria se Bin Laden tivesse sido capturado vivo e pudesse ser levado a julgamento — durante o qual preciosas verdades certamente viriam à tona —, sem que qualquer autoridade ou Estado nacional precisasse temer pela guarda dele. Mas faltou à civilização competência para dar essa lição ao terrorismo. E continuará a faltar, enquanto não se reconhecer o verdadeiro inimigo: o ódio que alimenta o extremismo. 

Tocadas sobretudo pela injustiça, feridas seculares sangram incessantemente mundo afora, ofuscando a razão e dando voz aos radicais. Diagnosticá-las e tratá-las é o único caminho para a paz. Os meios à disposição, os organismos e leis internacionais. Se chefes de Estado e de governo os manipulam despudoradamente em defesa de interesses menores, jogam seus povos na armadilha do terror. Enquanto fomentam a insânia, condenam a humanidade à agonia.




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