Valor Econômico - 11/07/2012 |
O presidente Barack Obama é mais popular no Brasil do que nos Estados Unidos. Uma pesquisa de opinião recente do Pew Research Center, um centro de estudos de Washington, mostra que 72% dos brasileiros torcem para que Obama ganhe um segundo mandato nas eleições de novembro, enquanto 16% acham melhor que seja outro. Os americanos estão bem divididos, em virtude sobretudo da crise econômica que afeta o país. Ontem, o jornal "The Washington Post" publicou pesquisa que dá empate com 47% das intenções de voto para Obama e para o seu virtual oponente republicano, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney. E para a economia brasileira, quem é o melhor candidato? Os lobistas que defendem interesses de empresas brasileiras em Washington têm uma queda por Romney. Os republicanos são, em geral, mais favoráveis à abertura da economia, enquanto os democratas costumam ser mais protecionistas. Os acordos de livre comércio dos Estados Unidos com Coreia do Sul, Colômbia e Panamá, por exemplo, demoraram a ser aprovados, devido à resistência de parlamentares democratas com fortes ligações com sindicatos. Romney critica Obama por não ter se esforçado mais para abrir a economia. Muito da agenda comercial americana é determinada pelos interesses paroquiais, como o dos produtores de algodão do Sul ou de milho no Meio-Oeste, que não têm fronteiras partidárias. Mas os lobistas veem maior disposição para negociar temas econômicos de mútuo interesse na Camara, dominada pelos republicanos, do que no Senado, cujo controle é dos democratas. Conservadorismo fiscal pode acirrar a "guerra de moedas" Sem a onda conservadora que tomou o Partido Republicano, que defende um forte ajuste fiscal, teria sido mais difícil extinguir as barreiras contra as exportações brasileiras de álcool combustível. Muitos desses radicais republicanos, agora, pressionam para derrubar de forma definitiva os subsídios concedidos aos produtores americanos de algodão, que foram alvo de uma reclamação brasileira na Organização Mundial do Comércio (OMC). O Brasil, em tese, pode também se beneficiar da linha mais dura que Romney pretende adotar contra a China. Fontes do Tesouro americano sempre lembram que Brasil e Estados Unidos têm interesses comuns nessa área, pois sofrem um processo semelhante de desindustrialização causado pelas exportações chinesas. O candidato republicano diz que, no primeiro dia no cargo, irá declarar que a China manipula a sua moeda, abrindo o caminho para a adoção de retaliações comerciais. Pode ser que não dê certo. Medidas desse tipo podem ser questionadas na OMC, e há o risco de a China desencadear uma guerra comercial. Obama tem preferido a negociação. A estratégia linha-dura, porém, funcionou contra o Japão e a Alemanha da década de 1980, que só sentaram para negociar depois que o Congresso americano aprovou uma lei que permitia taxar as exportações de países com moeda subvalorizada. No fim, o chamado Acordo de Plaza levou à desvalorização do iene e do marco alemão. O problema com Romney é a sua política macroeconômica, que poderá ter efeitos negativos no mundo todo. Seu programa de governo prevê um forte ajuste fiscal no ano que vem, numa estratégia que ele chama de "corte, limite e equilibre". O propósito é fazer um forte corte de gastos para recolocar a dívida pública numa trajetória sustentável, limitar os gastos a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) e aprovar uma emenda constitucional que obrigue o governo a zerar o déficit público. Para gastar mais do que arrecada, só em caso de guerra, nunca para estimular a economia. Todas alas políticas concordam que é preciso controlar a crescente dívida pública, que chegou a 103% do PIB em 2011, com viés de alta. Obama tem pregado uma estratégia mais gradual de ajuste fiscal, reduzindo o déficit de 9% do PIB em 2011 para 8,5% do PIB em 2012 e 5,5% do PIB em 2013. Mesmo assim, sua estratégia fiscal recebeu ressalvas do Fundo Monetário Internacional (FMI), que preferia algo ainda mais suave. O FMI prevê que, neste ano, o ajuste fiscal ficará um ponto percentual do PIB mais forte do que o anunciado por Obama, fazendo o déficit público cair a 7,5% do PIB em 2011. O organismo quer que Obama vá mais devagar, fixando uma meta de 6,25% do PIB para 2013, em vez de 5,5% do PIB. Para o Brasil, a política fiscal americana é a peça mais importante da chamada "guerra cambial". Contração fiscal nos Estados Unidos, por definição, contribui para a depreciação do dólar ante outras moedas do mundo - e o real brasileiro é uma das que mais sofrem. Já está ruim com Obama, e promete ficar pior se Romney for reeleito. A falta de ação fiscal também sobrecarrega o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), obrigando-o a promover mais expansões monetárias. Ruim de novo para a moeda brasileira. Apesar do empate nas pesquisas, Obama ainda é considerado favorito para vencer as eleições. Os Estados Unidos têm um sistema eleitoral bizarro, em que nem sempre os votos de cada cidadão têm o mesmo peso. Obama lidera nos Estados considerados cruciais para vencer a eleição. O cenário mais provável, porém, é que ele não faça a maioria no Congresso. Os republicanos devem continuar com o controle da Câmara e têm boas chances de fazer a maioria simples no Senado. Do ponto de vista prático, isso significa um alto grau de polarização nas decisões políticas. Há algumas decisões importantes que os Estados Unidos devem tomar entre o fim deste ano e começo do próximo. Sem ação, em janeiro entram em vigor US$ 4 trilhões em cortes de gastos e aumentos de impostos, conhecidos como "abismo fiscal". Pelos cálculos do FMI, se essa armadilha não for desarmada, a economia americana irá crescer menos do que 1% no próximo ano. O organismo alertou que outros países do mundo podem ser atingidos, sem dizer exatamente como. É bem provável que uma contração fiscal dessa magnitude leve a novas rodadas de desvalorização do dólar. Alex Ribeiro é correspondente em Washington |