a Tragédia do Euro
Política

a Tragédia do Euro


«O mundo das trocas de mercadorias é o mundo da universalidade do egoísmo: o do interesse pessoal. Os sujeitos da troca são indiferentes entre si; estão em relação uns com os outros apenas para a realização dos seus interesses pessoais: no que respeita à "necessidade do outro (e dos outros)" - que é, como sabemos, o que Marx considerou a mais elevada e "mais humana" necessidade – o desinteresse é total
(
"a Teoria da Necessidade em Marx", de Agnes Heller, 1974)

Embora o Euro tenha sido criado sob o alto-pretexto de controlar a inflação (1), de facto quem gera a inflação é o Banco Central Europeu - cunha Euros dentro dos limites de paridade impostos pela FED norte americana, empresta-os aos Bancos (que são entidades privadas), estes transformam-nos em papel de crédito adquirindo títulos do tesouro emitidos pelos governos, e com estes titulos de dívida como garantia os Bancos vão ao BCE e recebem dinheiro novo. O processo repete-se ad infinitum... gerando possibilidades de lucros privados ilimitados à custa do sacrificio dos bens públicos... é um fartar vilanagem! como muito bem avisou atempadamente Hans-Hermann Hoppe em “Marxist and Austrian Class Analysis” (1990): “há nas nossas sociedades uma classe que usa o Estado como mecanismo de exploração do resto da população” (2). E como vimos hoje claramente, a classe dirigente pode aumentar o seu poder aumentando os impostos, usando a inflação, ou através de um maior endividamento do Estado.
Torna-se evidente que neste jogo o BCE foi criado, com a conivência de toda a elite europeia (3), para controlar o Marco alemão (até aí controlado pelo Bundesbank), com o qual não haveria um tão alto nivel de inflação uma vez que a produção na Alemanha se baseia na alta produtividade com elevada remuneração do trabalho e não se apoia principalmente na criação de dinheiro ficticio, logo, o interesse em criar o Euro foi dos Aliados (4), franceses, italianos, e tutti quanti, que assim puderam produzir défices elevadíssimos, todos sob o chapéu de chuva protector do imperialismo dos Estados Unidos que continua a dominar política e militarmente a Alemanha (5)

Se o papel da Alemanha no controlo económico da Europa parece já não suscitar grandes dúvidas (6), já a hegemonia da Reserva Federal pode colocar questões cuja resposta aparentemente não parece fácil: como provar que é o sistema bancário privado da Reserva Federal (FED) quem impõe as regras do jogo? Primeiro e mais visivel, com a hegemonia do Dólar como moeda global de referência nas transacções, Segundo,, todo o dinheiro novo cunhado e entregue aos Bancos pelo BCE que fica registado como dívida soberana na posse do BCE, é de apenas 20 por cento no balanço da instituição. Os restantes 80 por cento estão na posse de fundos financeiros, fundos de investimento e de bancos estrangeiros, a maioria de capitais norte-americanos privados não identificados como tal (7).

(1) Há dez anos, aquando do lançamento do Euro, um dos cinco critérios a cumprir era que a inflação teria de estar abaixo de um limite médio para os paises europeus estabelecido em 1,5 por cento
(2) Leitura aconselhada: Philipp Bagus, “La tragedia de los biens communes y la escuela austríaca” (2004)
(3) O ministro das Finanças alemão Wolfgang Schaeuble disse do Euro ser "uma clara história de sucesso" (Reuters)
(4) o Euro é um passo para se estabelecer uma moeda única mundial. Eliminada a concorrência entre divisas, os políticos teriam um poder ilimitado. Para os interesses dos EUA na criação de um Banco Central Mundial (inclusivé recentemente reclamado pelo alemão Joseph Ratzinger) ler Murray Rothbard: “Wall Street, Banks, and American Foreign Policy” (1995)
(5) a Alemanha do pós-guerra nunca teve plena soberania, inclusivé porque os Aliados, ao abrigo do Tratado Dois-Mais-Quatro de 1990, ainda mantinham direitos especiais de controlo. A Carta das Nações Unidas ainda contém cláusulas de “Estado inimigo”. Estas permitem aos Aliados impor medidas contra Estados como a Alemanha ou o Japão sem autorização do Conselho de Segurança (nota pp. 102)
(6) no livro “Der Euro” (pp 263) David Marsh citava “o primeiro ministro italiano Giulio Andreotti que alertou para o nascimento de um novo pan-germanismo
(7) Ninguém, fora dos circulos internos do Sistema Monetário Europeu, pode saber em concreto que parte dos valores emitidos ou obrigações acabam no sistema Euro, porque o BCE não publica informações sobre garantias prestadas (collateral, pp 152)
(8) Gravura: o Rapto de Europa; segundo a obra do francês Noël-Nicolas Coypel (1727) os náufragos estão rodeados de anjinhos e outras míticas figuras benfeitoras que só pretendem ajudar
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