Não dá para classificar a política cambial do Banco Central (BC) nem como certa nem como errada. Ela só é confusa e nem sempre, como acontece agora, observa os critérios enunciados e tantas vezes reiterados pelas próprias autoridades da área.
Em janeiro de 2004, o BC anunciou que o câmbio continuaria flutuante, mas sujeito a intervenções, no cumprimento da política conhecida como flutuação suja. As intervenções teriam dois objetivos: aquisição de reservas externas e neutralização da volatilidade das cotações, quando ela ocorresse. Mas, na prática, os princípios podem ser outros, como várias vezes analisado aqui, especialmente em 1º de julho.
Por ocasião do anúncio dessa política, ficou entendido que as intervenções se limitariam à compra de dólares ou a sua suspensão. Em nenhum momento o BC anunciou explicitamente que também poderia vender dólares, mesmo que fosse para neutralizar a volatilidade. O que tantas vezes houve foram manifestações oficiais de que a qualquer momento o excelente volume de reservas, hoje de US$ 207 bilhões, poderia ser usado nas emergências para reequilibrar um déficit excessivo nas contas externas. O fato é que, de janeiro de 2004 para cá, não foram realizados leilões de venda.
Há três dias, o BC suspendeu suas compras diárias. Coincidência ou não, a suspensão aconteceu quando foi atingida a cotação máxima em oito meses de R$ 1,815 por dólar.
Como já ocorrera há um ano, ao interromper os leilões, depois de 11 meses de compras diárias, o BC não deu explicações. Obviamente, essa decisão não teve por objetivo nem aumentar as reservas, porque elas só aumentam com novas compras, nem eliminar a volatilidade das cotações, porque o tranco seguinte foi até maior do que o que vinha acontecendo. Quinta-feira, por exemplo, a alta foi de 1,68% e, na sexta, a baixa foi de 1,87%, sem que, no entanto, a forte volatilidade merecesse especial atenção da mesa de câmbio do BC.
A cotação do dólar diante do real chegara ao fundo do poço no dia 30 de julho, quando bateu no R$ 1,56 e, de lá para cá, subiu 14% em seis semanas.
Alguns dias antes de suspender os leilões, o BC foi criticado por ajudar a alimentar a demanda por moeda estrangeira e, assim, concorrer com a intensificação da desvalorização do real, política que favorece o aumento da inflação, quando sua política monetária (política de juros) opera na direção oposta.
Quando parou de comprar dólares na última quinta-feira, o BC pareceu sensibilizado por essas críticas. O mercado entendeu que a política cambial vai sendo conduzida como se, no entendimento do BC, devessem prevalecer níveis desejáveis para as cotações, que poderiam variar diariamente, conforme o jogo da hora.
Mas o BC continua negando que suas intervenções tenham por objetivo garantir piso mínimo ou teto máximo.
Outra vez, não há nada de errado em que compre dólares, que os deixe de comprar ou, até mesmo, que passe a vendê-los.
O que há é que a atuação do BC não observa rigorosamente a política enunciada e isso o atinge no que há de mais precioso em seu capital, que é a credibilidade.
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