Política
Agora, enfrentar a economia - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 08/11A demografia explica a reeleição do presidente Barack Obama, mas só a economia vai garantir que ele tenha sucesso no segundo mandato. Obama tem encontro marcado com uma encruzilhada que definirá esse destino econômico: o “abismo fiscal”. Ele precisará de mais habilidade do que teve até agora para evitar os cortes automáticos de gastos do dia primeiro de janeiro.Se conseguir tirar essa incerteza do caminho, o governo estará abrindo as portas para investimentos, que vão elevar o patamar de crescimento. A economia dos EUA cresce entre 1,5% e 2% ao ano, mas pelos cálculos do Financial Times as grandes corporações estão com US$ 1,7 trilhão em caixa para investir. Não o fazem porque esperam ambiente de maior certeza e previsibilidade.Obama se reelegeu desafiando alguns dogmas políticos e econômicos. Quando seu oponente começou a campanha, apresentando-se com o mérito de ser administrador de empresas, a economia crescia pouco e 23 milhões de americanos estavam desempregados ou subempregados. Um dogma político é que ninguém consegue um segundo mandato nos EUA com uma taxa de desemprego acima de 7,2%. Ainda assim, ele ganhou.A explicação do fenômeno está na rápida transformação da sociedade norte-americana. Ele teve 55% dos votos das mulheres. Ganhou na faixa da população com menos de 45 anos. Entre quem tem 18 e 29 anos, chegou a 60% de preferência. Ficou com 62% dos votos urbanos, das grandes cidades. Conquistou 71% dos votos de hispânicos; 73%, de asiáticos; e 91%, de negros. Foi a vitória da diversidade.Essa coalizão pode não ter ficado completamente satisfeita com seu primeiro governo, nem ter recebido o que lhe foi prometido na campanha de caráter motivacional de 2008, mas o candidato derrotado assustou demais esses grupos.Mitt Romney foi muito para a direita durante as primárias ao ter que competir com oponentes como Newt Gingrich e Rick Santorum. Ao fazer esse movimento, perdeu parte dos independentes que votariam nele se tivesse consolidado uma imagem de conservador moderado. Seu vice, Paul Ryan, escolhido para agradar a ala radical, também não ajudou. As declarações do próprio Romney, de que 47% dos americanos vivem do Estado e não assumem responsabilidade sobre suas vidas, fizeram o resto.Apesar disso, o Partido Republicano teve volume expressivo de votos e ganhou a maioria na Câmara. Pode dizer que o mandato das urnas é para que ele continue na mesma linha que vinha mantendo, de veto às iniciativas do governo. Foi essa polarização que levou ao impasse do ajuste fiscal. Como fracassou a saída negociada, entram em vigor no primeiro dia do ano que vem cortes de gastos e aumentos de impostos no valor de US$ 600 bilhões. Isso tem o poder de jogar o país de volta à recessão.A primeira tarefa de Obama é construir canais de diálogo com a oposição para evitar o cenário catastrófico de cortes de gastos indiscriminados.Uma das formas de fazer um ajuste fiscal alternativo será o aumento de impostos, ideia com a qual os eleitores demonstraram concordância. Ontem, o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, admitiu que isso pode acontecer. Entre os vários pontos sobre os quais os eleitores foram chamados a opinar está a Proposição 30 da Califórnia, que permitiu aumento de impostos sobre vendas de varejo no estado e imposto de renda para quem ganha mais de US$ 250 mil por ano. Ela foi aprovada. Os recursos irão para educação. O ajuste será aumento de imposto e corte de gasto. Não há milagre, ao contrário do que parecia acreditar Romney, que propunha aumento de gastos militares e redução de impostos dos mais ricos e equilíbrio fiscal.
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