Esse tal de capitalismo é tão forte, mas tão forte, que consegue ouvir juras e cantos de amor mesmo no meio de uma baita crise. Diz o documento do G20, composto excepcionalmente no sábado pelos 22 países mais importantes para a economia mundial: "Nosso trabalho será guiado por uma crença compartilhada de que os princípios de mercado, abertura comercial e de regimes de investimento e mercados financeiros eficazmente regulados estimulam o dinamismo, a inovação e o espírito empreendedor, essenciais para o crescimento econômico, o emprego e a redução da pobreza". As escolas liberais seriam provavelmente incapazes de afeto maior. O livre mercado até reduz a pobreza, quem diria, hein? Nem é novidade, no entanto, que tenha sido dito, pela simples e boa razão que não há, entre os líderes do G20, qualquer um que se oponha ao capitalismo. Afinal de contas, Cuba, Coréia do Norte e Venezuela não são membros do grupo. De todo modo, para efeitos políticos internos, vale notar que um dos líderes que assina a ode ao capitalismo acima reproduzida chama-se Luiz Inácio Lula da Silva (para não falar em Cristina Fernández de Kirchner, da Argentina, e em Hu Jintao, da China, que deixo para os colunistas de seus países). A conversão radical de Lula ao liberalismo puro e duro tampouco é nova -desde que assumiu, faz seis anos, casou-se sem pudores com os "princípios de mercado". Mas há ainda petistas -inclusive a candidata "in pectore" de Lula para 2010, a ministra Dilma Rousseff- que continuam falando em socialismo e que acham o governo de esquerda. A assinatura de Lula no texto do G20 transforma em fraude ideológica insistir nessa tolice. PS - Cometi domingo o gravíssimo erro de tratar o jornalista Vladimir Herzog como terrorista, o que nunca foi. Perdão. |