O IBGE divulgou na semana passada o mais completo diagnóstico do agronegócio nacional: o Censo Agropecuário, com dados coletados em 2006. Ficou evidente o avanço da produtividade, isto é, a quantidade produzida por área ocupada. No cotejo com o censo anterior, concluído em 1996, o caso mais notável foi o do algodão, cuja produtividade subiu 124%. Na pecuária bovina, o aumento no total de carne produzida por hectare (10 000 metros quadrados) foi de 90%. Com ganhos como esses, possíveis somente com a profissionalização do agronegócio e do investimento em tecnologia, o país se aproximou dos índices de produtividade obtidos pelos Estados Unidos. Outro dado surpreende: a área efetivamente utilizada recuou 7%, contrariando o discurso segundo o qual a expansão agrícola significa necessariamente avanço sobre matas virgens, como a Floresta Amazônica.
A despeito dos números positivos, houve quem achasse razões para recebê-los com ceticismo. Isso porque ocorreu um pequeno aumento na concentração agrária. No entanto ela, na prática, é uma consequência da modernização do agronegócio, sem a qual não seria possível o aumento na produtividade. De fato, não se pode negar a importância dos pequenos agricultores no cultivo de alimentos típicos no prato dos brasileiros como o feijão e a mandioca. Mas são os grandes produtores que dominam as exportações, vitais para trazer dólares para a economia – em 2008, as vendas externas somaram 72 bilhões de dólares, mais que um terço do total exportado pelo país.
Já o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) concluiu, com base nos dados do IBGE, que a agricultura familiar é mais produtiva do que aquela praticada pelos grandes fazendeiros. Isso ocorreria porque, apesar de ocuparem menos de um quarto da área total, os pequenos produtores respondem por 38% do valor produzido (54 bilhões de reais). Mas o raciocínio carece de solidez. A produtividade deve ser medida em quantidade, e não em reais. Sem uma comparação mais apurada, o fato de o faturamento ser proporcionalmente maior pode significar apenas que as unidades familiares produzem, na média, mercadorias mais caras. O argumento do MDA, portanto, só pode ser interpretado como uma tentativa de fortalecer seu pleito por uma alteração nos índices de produtividade utilizados como parâmetro na reforma agrária – e assim acelerar as desapropriações que beneficiam o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Como costumam brincar os economistas, números bem torturados confessam qualquer coisa.