Política
Alagados e soterrados Carlos Marcelo
Correio Braziliense - 09/04/2010 |
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"Meu Deus, essa terra toda caiu em cima do meu filho…" A aflição da mãe, entrevistada no telejornal de ontem na hora do almoço, resume as inúmeras cenas de desespero registradas após o deslizamento no Morro do Bumba, em Niterói. Se a tragédia trazida pelas fortes chuvas no Rio de Janeiro precisava de uma imagem emblemática, ela apareceu no início da manhã. A onda de terra se misturou com lixo acumulado por décadas e formou uma devastadora língua negra que engoliu casas construídas de forma precária, sem as mínimas condições de infraestrutura. Famílias inteiras morreram cobertas por uma mistura fétida de lama, entulho e chorume. Além da morte, a desonra. Na terça-feira, quando já havia dezenas de óbitos em decorrência de deslizamentos, o noticiário gerado no Rio de Janeiro se dividia entre as impressionantes cenas de alagamentos na capital fluminense, algumas inéditas, como a visão da Lagoa Rodrigo de Freitas transbordando a ponto de encobrir ruas e calçadas; os dramas das pessoas que perderam familiares por conta dos deslizamentos nos morros; cadáveres cobertos por chorume. Desnorteadas, as autoridades municipais e estaduais não sabiam o que dizer — nem o que fazer. Sempre ao lado de Lula, o governador Sérgio Cabral balançava a cabeça, concordando com todas as afirmações acacianas do presidente da República. Com olhar de súplica, o prefeito Eduardo Paes pedia auxílio aos assessores a cada pergunta mais aprofundada sobre as providências que poderiam ser tomadas pelo poder local. Como numa loteria macabra, o número de mortos em consequência das fortes chuvas aumenta a cada hora: 23, 39, 77, 83, 95, 110, 169… foram 170 até as 18h de ontem (97 apenas em Niterói). Pela quantidade de terra deslocada no Bumba, talvez jamais saibamos os números finais da tragédia. A quantidade de pessoas afetadas pelos temporais também é impossível de calcular. Até porque, na cidade partida e submersa, abril chegou trazendo mais uma cruel divisão: o grupo dos que ficaram alagados por algumas horas e o dos que foram soterrados para sempre. Ambos não receberam o mínimo que se espera do poder público: dignidade e respeito. Para viver e para morrer. |
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