ALBERTO TAMER - Mais investimentos. Onde?
Política

ALBERTO TAMER - Mais investimentos. Onde?


O ESTADÃO - 28/07/11

Os investimentos estrangeiros no Brasil no primeiro semestre foram 168,5% superiores a igual período do ano passado. Recorde de US$ 35,2 bilhões. Para se avaliar o que isso representa, é a metade dos investimentos diretos na China, US$ 60 bilhões nos primeiros seis meses do ano. Um resultado que o BC e o mercado previam, sim, mas não nessas proporções. Com base nas intenções de investimentos e projetos já anunciados pelas empresas estrangeiras, estima-se agora que podem chegar a US$ 55 bilhões até o fim do ano.

Tudo indica que não faltarão investimentos estrangeiros no Brasil. Há poucas opções lá fora. A dúvida é saber para onde estão indo e, mais ainda, para onde se destinarão no futuro.

O que falta. Aqui, a grande dúvida que deveria preocupar o governo e o setor produtivos mais que a própria valorização do real. Neste cenário de muita liquidez e interesse das multinacionais - e até de empresas médias - no Brasil, há o certo e o errado

O certo é que o Brasil deve continuar atraindo cada vez mais investimentos na produção. Ele é importante não só na geração de emprego e riqueza, mas no equilíbrio das contas externas.

O errado é que esses recursos estão se concentrando nas áreas de serviço e varejo, não na indústria que não avança nem se capitaliza, e muito menos no setor em que o Brasil mais precisa, infraestrutura. Pode-se dizer que dólares estarão vindo nessa área por causa da Copa e Olimpíada, mas são de baixo grau de reprodução e dispersão na atividade econômica. Não são fatos geradores de produção, emprego e riqueza, além daqueles que criam na fase de construção e utilização nos dois eventos.

Apenas um exemplo entre muitos é o famoso e super dispensável trem-bala, enquanto os projetos dos aeroportos e dos portos caminham a passos dos velhos trens da Central do Brasil.

Dólares no lugar certo. Diante desse enorme interesse externo no Brasil, falta uma política realista de incentivos especiais para os investimentos externos no parque industrial. É atrair investidores estrangeiros para as empresas aqui instaladas que não estão atendendo o crescimento da demanda interna e perderam mercado no exterior.

Dólares enganosos? Os US$ 35,2 bilhões são bem-vindos, sem dúvida. São dólares cujo fluxo deve ser administrados. Eles vão se somar ao superávit, agora crescente na balança comercial devido ao aumento dos preços das commodities, e aos investimentos financeiros.

O governo reiniciou ontem sua batalha para conter a valorização do real com imposto de até 25% nas operações no mercado de derivativos. Promete mais para impedir especulação financeira. Será uma luta árdua porque há um número crescente de multinacionais vindas para o Brasil.

Não é mais apenas o capital financeiro. Os números sobre o ingresso de recursos externos divulgados ontem pelo BC mostram que as operações em carteira caíram de US$ 22,7 bilhões no primeiro semestre do ano passado para US$ 14 bilhões de janeiro a julho, por causa das dificuldades impostas pelo governo para administrar o afluxo dólares por essa via.

Há suspeita até do FMI de um "desvio no meio do caminho." Muitas empresas estariam antecipando a entrada de dinheiro como investimento direto para usar no início de suas obras e ganhar no diferencial de juros. Sem impostos. Pode estar acontecendo. Mas, de qualquer forma, é difícil admitir que uma parte significativa daqueles US$ 32,5 bilhões tenham vindo com esse objetivo.

A verdade expressa pelos números do Banco Central é que tem entrado muito dinheiro para todas as finalidades porque a economia vai bem. Há poucas opções no mundo além do mercado brasileiro. E não é só a opção financeira que o governo agora está enfrentando. É dinheiro que está vindo para produzir mesmo sem pensar em curto prazo no mercado externo. Brindo à performance econômica, à saúde do sistema financeiro, resistência aos choques externos e às perspectivas de crescimento equilibrado nos próximos anos. O país está oferecendo condições que não existem lá fora. É isso.



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