Alberto Tamer O dilema do BC e do Fed Alberto Tamer
Política

Alberto Tamer O dilema do BC e do Fed Alberto Tamer



O Estado de S. Paulo - 08/04/2010

O Fed afirmou que vai manter os juros em torno de zero ainda por algum tempo. E Ben Bernanke reforçou: por um período prolongado de tempo. Até que a economia dê sinais mais firmes de recuperação, com aumento da produção e do consumo.

Lá, ao contrário daqui, a política do banco central não é discutida em público pelo governo antes de suas decisões. Também não há manchetes de jornais tratando os juros como um jogo entre Santos e Corinthians no qual o juiz roubou.

"A política do Fed depende do comportamento da economia, não do calendário. O Fed vai agir quando quiser, e não será limitado", disse o analista americano Dan Greenhaus, após sair a ata da última reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed.

Eles e nós. Nos Estados Unidos, afirma o Fed, "há uma substancial folga para manter a inflação contida." A demanda não cresce e a produção, também. Mesmo com o resultado surpreendente no último trimestre do ano passado, de 5,4%, o PIB anualizado continua abaixo de zero. Há que estimular a demanda com estímulos fiscais, apesar dos déficits e juros baixos, na verdade, negativos, descontada a inflação. A prioridade é sair da crise e crescer. Nós já saímos e estamos crescendo. Lá, é preciso manter os juros baixos; aqui, elevá-los para impedir o desequilíbrio entre produção e demanda.

Eles não esperam crescer mais de 2,2% este ano, nós estamos nos aproximando de 6%, mas a capacidade de produção industrial se aproxima do limite: 85%. Mais consumo, mais produção, sinônimo de pressão inflacionária. Isso não existe nos EUA, como reitera Bernanke. Nem mais inflação, pouco mais de 2% em um ano, nem mais produção, mesmo porque o mercado externo também continua retraído.

E aqui? Bem, aqui estamos pagando o preço confortável do sucesso. Janeiro, fevereiro, inflação de 1,54%; março, mais 0,5%. E aí vamos nós com o índice subindo no ritmo do consumo, que não para de crescer. O BC se assustou. Em dezembro, previa inflação de 4,6% este ano. Agora, 5,2%. E pode não parar aí, pois a renda dos assalariados cresceu 10% no ano passado, apesar da crise; e um ganho de 9,5% do salário mínimo em 12 meses; e as empresas voltam a contratar para compensar os 2 milhões de empregados liberados em 2009. Estima-se que mais 1 milhão serão contratados, pelo menos. Mas o aumento da produção, que reanimará a economia, só virá em alguns meses. É a produção caminhando atrás do consumo. É a porta aberta para a inflação, que está aí.

Tudo contra ela! O BC se assusta. O presidente, também. Mandou ontem o ministro do Planejamento,Paulo Bernardo, dizer que "a ordem do governo é bater na inflação". "Não queremos, de forma alguma, que ela seja um problema." Eles sabem, o presidente e o ministro, que não adianta um esforço enorme para aumentar a renda dos empregados, 10%, como foi no ano passado, se a inflação comer 5%. E ela é mais rápida e voraz, come a renda no dia a dia das famílias nos supermercados, onde as vendas continuam crescendo.

A saída é... Aumento dos juros, como primeiro passo de uma política mais austera. Eles estão, hoje, no nível mais baixo, de 8,75%. Chegaram até aí para permitir que a recessão no Brasil durasse pouco e fosse amena. Mas, aqui, o dilema: aumenta os juros agora, dias 27 e 28, ou depois, mais perto das eleições. Juro maior agora e inflação menor depois, ou inflação mais alta agora e juro mais alto depois. Juro não resolve o problema. A solução é investir e produzir. Mas estamos longe disso.




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