FOLHA DE SP - 03/11
Baixa qualificação condena jovens a desemprego e piores postos de trabalho; reversão do ciclo exige mais que ações de redistribuição de renda
Pelo Censo de 2010, 5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos não estudam nem trabalham. Além da denominação pejorativa de geração "nem-nem", essa condição aniquila as perspectivas de ascensão pessoal de forma que nenhum Bolsa Família poderá compensar.
Em entrevista a esta Folha, o economista Richard Murnane, da Universidade Harvard (EUA), afirmou com propriedade que "a percepção de que os pobres sempre serão pobres é uma ameaça à democracia". Esse ciclo de reprodução da penúria pode ser atenuado com programas de distribuição de renda, mas só será interrompido com avanços na qualidade do ensino, na escolaridade e na qualificação.
O mercado de trabalho nos dias de hoje, reitera Murnane, exige profissionais bem letrados. Vale dizer, trabalhadores com vocabulário amplo o suficiente para encontrar, entender e selecionar, no vasto cabedal de conhecimento disponível nos computadores, os dados para compor a solução de problemas. Já se foi o tempo em que lhes bastava saber ler manuais.
Aquela aptidão poderia ser perfeitamente adquirida no ensino médio ou em escolas técnicas. E é aí, com efeito, que se encontra o ponto nevrálgico do sistema educacional brasileiro, o que ajuda a explicar que a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos (14,5% em 2011) ultrapasse o triplo da observada entre os acima de 25 anos.
Só 52% dos brasileiros de 15 a 17 anos estavam cursando o ensino médio, como deveriam, em 2011. Jovens de 19 anos que haviam concluído essa etapa eram apenas 51%. E, dos que se formam, menos de 30% adquirem a formação satisfatória em português; em matemática, são meros 10%.
Não admira que o Brasil figure tão mal nos rankings do Pisa, exame internacional padronizado que se realiza em mais de 60 países.
Embora o governo federal propagandeie que os secundaristas brasileiros foram os que mais avançaram entre 2000 e 2009 na prova trienal, a média de 401 pontos nos deixa muito abaixo do escore dos países desenvolvidos (OCDE), 496, e atrás de Chile (439) e México (420). Quando se excluem as escolas privadas e os colégios federais, o nível cai mais, para 387 pontos.
A baixa qualificação desses estudantes os condena ao desemprego ou, quando encontram trabalho, aos piores postos. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com dados oficiais de 1996 a 2010 mostra que são vítimas sobretudo de muitos desligamentos --e não são substituídos por adultos, mas por outros jovens mal qualificados.
Não é novo o diagnóstico de que o ensino médio não dá aos jovens um futuro nem forma os trabalhadores de que o país precisa. Também não é novidade que o poder público faz muito menos do que deveria para saldar essa dívida.
Baixa qualificação condena jovens a desemprego e piores postos de trabalho; reversão do ciclo exige mais que ações de redistribuição de renda
Pelo Censo de 2010, 5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos não estudam nem trabalham. Além da denominação pejorativa de geração "nem-nem", essa condição aniquila as perspectivas de ascensão pessoal de forma que nenhum Bolsa Família poderá compensar.
Em entrevista a esta Folha, o economista Richard Murnane, da Universidade Harvard (EUA), afirmou com propriedade que "a percepção de que os pobres sempre serão pobres é uma ameaça à democracia". Esse ciclo de reprodução da penúria pode ser atenuado com programas de distribuição de renda, mas só será interrompido com avanços na qualidade do ensino, na escolaridade e na qualificação.
O mercado de trabalho nos dias de hoje, reitera Murnane, exige profissionais bem letrados. Vale dizer, trabalhadores com vocabulário amplo o suficiente para encontrar, entender e selecionar, no vasto cabedal de conhecimento disponível nos computadores, os dados para compor a solução de problemas. Já se foi o tempo em que lhes bastava saber ler manuais.
Aquela aptidão poderia ser perfeitamente adquirida no ensino médio ou em escolas técnicas. E é aí, com efeito, que se encontra o ponto nevrálgico do sistema educacional brasileiro, o que ajuda a explicar que a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos (14,5% em 2011) ultrapasse o triplo da observada entre os acima de 25 anos.
Só 52% dos brasileiros de 15 a 17 anos estavam cursando o ensino médio, como deveriam, em 2011. Jovens de 19 anos que haviam concluído essa etapa eram apenas 51%. E, dos que se formam, menos de 30% adquirem a formação satisfatória em português; em matemática, são meros 10%.
Não admira que o Brasil figure tão mal nos rankings do Pisa, exame internacional padronizado que se realiza em mais de 60 países.
Embora o governo federal propagandeie que os secundaristas brasileiros foram os que mais avançaram entre 2000 e 2009 na prova trienal, a média de 401 pontos nos deixa muito abaixo do escore dos países desenvolvidos (OCDE), 496, e atrás de Chile (439) e México (420). Quando se excluem as escolas privadas e os colégios federais, o nível cai mais, para 387 pontos.
A baixa qualificação desses estudantes os condena ao desemprego ou, quando encontram trabalho, aos piores postos. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com dados oficiais de 1996 a 2010 mostra que são vítimas sobretudo de muitos desligamentos --e não são substituídos por adultos, mas por outros jovens mal qualificados.
Não é novo o diagnóstico de que o ensino médio não dá aos jovens um futuro nem forma os trabalhadores de que o país precisa. Também não é novidade que o poder público faz muito menos do que deveria para saldar essa dívida.