O Globo - 15/06/2011 |
No fim de maio e início deste mês de junho tivemos dois fatos que devem causar profunda reflexão, principalmente ao cidadão de Angra dos Reis e cidades vizinhas, como Itaguaí, Mangaratiba, Paraty e Rio Claro. Milhares de quilômetros separam os locais onde os fatos ocorreram, mas, para nós, cidadãos fluminenses em geral, ambos estão em nossa esquina. No dia 30, chegou a notícia de que a Alemanha - país do qual importamos a tecnologia nuclear de nossas usinas - abriria mão de toda a energia atômica até 2021. O país seria o primeiro industrializado a anunciar o fechamento de todas as usinas, no caso 17. Há um plano B de adiar para 2022, caso em 2018 se constate algum risco para o fornecimento. Mas a decisão já foi tomada e é irreversível. Junho começou e veio o segundo fato a mexer com nosso cotidiano: bombeiros em defesa de melhores salários e condições de trabalho tomaram o quartel da corporação. Reivindicação certa, atitude incorreta; todos têm direito de pleitear uma vida melhor e tenho certeza de que o novo comandante dos bombeiros, coronel Sérgio Simões, fará um belo trabalho de conciliação. Só que, no pano de fundo, está um problema que não despertou a atenção da mídia: dos bombeiros que estiveram presos em Niterói, boa parte forma nada menos que 50% do efetivo de Angra dos Reis. No momento em que a discussão sobre segurança nas usinas vem à tona, Angra ficou com metade de seu efetivo - que já não é o suficiente. Pensar que os bombeiros são decisivos em qualquer situação de emergência nos leva à preocupação ainda maior com Angra dos Reis e arredores. E isso afeta todo o Estado do Rio de Janeiro. Como tal fato ainda não despertou a atenção da mídia e das autoridades? Isto revela que ainda falta uma cultura de prevenção, uma cultura de compensação e de segurança para locais com usinas nucleares no Brasil. É o cidadão local quem precisa de mais investimento - principalmente vindo dos royalties - para ter no futuro um plano de emergência compatível com a importância daquela cidade. Além de discutir a questão dos royalties sobre energia nuclear, é preciso cobrar a criação da Agência Reguladora de Energia Nuclear, item que vem sendo exigido pela Agência Internacional de Energia Atômica. Atualmente, a Cnen é obrigada a fazer o papel de se autofiscalizar e formular uma política de energia nuclear, o que infringe os critérios básicos de segurança, já que os órgãos de fiscalização precisam ser independentes para permitir o cumprimento pleno de suas atribuições. Como integrante da Comissão de Minas e Energia, convido os cidadãos fluminenses a esta reflexão sobre estes dois fatos, tão distantes um do outro, tão próximos do nosso dia a dia. |