Política
Anatomia de um aparelho lulopetista Editorial O Globo
Agencia o Globo
O Globo - 24/09/2010
Acena do vídeo em que Maurício Marinho embolsa, sem cerimônia, um maço de cédulas foi o estopim da crise do mensalão. Chefe do Departamento de Compras e Contratações dos Correios, plantado na estatal pelo PTB de Roberto Jefferson, Marinho era a prova viva da montagem de um esquema de corrupção dentro da empresa pública, com fins político-eleitorais. Jefferson considerou aquilo uma manobra palaciana contra ele, um fiel aliado, e, então, decidiu denunciar o esquema montado por José Dirceu e outros - segundo autos do processo a ser julgado no STF - com a finalidade de bombear dinheiro sujo para um esquema de compra de apoio parlamentar ao governo.
A grande repercussão do caso deixou os Correios em segundo plano. Mas agora, na descoberta do bunker lobista montado na Casa Civil, em que atuavam um filho da ministra Erenice Guerra e pelo menos mais dois funcionários de livre passagem pela portaria do Planalto, a estatal retorna ao noticiário, e, na essência, pelo mesmo motivo que em 2005: traficância de interesses, facilitada porque a empresa continuou a ser moeda de troca no jogo de baixa política que o Planalto aceitou executar na montagem de uma ampla e eclética aliança partidária.
Se aparelhos foram montados na Era Lula por motivação ideológica, como nas capitanias doadas a movimentos ditos sociais (MST e satélites) no Incra, Ministério do Desenvolvimento Agrária e outros recantos da máquina sustentada pelo contribuinte, os Correios (ECT) ficaram reservados para nomeações políticas companheiras e de aliados, com prioridade para o PMDB - partido também agraciado com o setor elétrico, assim como corporações sindicais lotearam o Ministério do Trabalho e se apossaram da Petrobras. O caso de Erenice e sua grande família, se não destampou por inteiro a caixa-preta dos Correios, ao menos permitiu se ter alguma ideia dos estragos feitos pelo aparelhismo numa empresa que já foi sinônimo de eficiência entre as estatais, durante muitos anos bem situada nos rankings de confiabilidade feitos com base em pesquisas de opinião. Noticia-se que Erenice Guerra, sucessora de Dilma Rousseff, de quem era principal assessora na Casa Civil, tomara os Correios para si. Por este motivo, deduz-se, o filho lobista Israel Guerra foi pilhado mercadejando facilidades para uma empresa de cargas aéreas junto à ECT. Soube-se depois que os Correios também serviram para a prática do nepotismo cruzado: o presidente da estatal, David José de Matos, do PMDB de Brasília - outro território de fácil trânsito da ministra recém-defenestrada - teve a filha, Paula Damas de Mattos, contratada como assessora da Casa Civil. Em troca, azeitou a contratação de um dos irmãos de Erenice, José Euricélio, na Novacap, de Brasília, empresa sob influência de David José, e da qual foi secretário-geral. O conjunto da obra de demolição da ECT pela politicagem, compadrio, corrupção e outras mazelas fatais reforça a necessidade de um projeto de privatização inteligente dos serviços de correios. Como o executado nas telecomunicações, com empresas privadas competindo entre si. Na telefonia, um dos resultados é que hoje existe quase um aparelho celular por habitante, e ainda há sobra de linhas fixas, um sonho delirante há 20 anos.
Mas a oposição será grande, por motivos evidentes. Mesmo que se esteja às portas de um apagão postal, pelas mesmas razões.
loading...
-
Erenice Em Guerra, Por Guilherme Fiúza
No princípio era o Dirceu. Depois veio Dilma, e finalmente Erenice. A linha evolutiva na Casa Civil de Lula é um show de coerência. Dirceu é padrinho de Dilma, que é madrinha de Erenice. Os três têm em comum o mesmo carinho pela coisa pública....
-
Luis Nassif: Veja Publicou A Própria Prova Do (seu) Crime
Luis Nassif Vamos conferir direitinho o método de reportagem do Diego Escosteguy e da Veja. Como expliquei no Twitcam, o jogo da manipulação consiste em pegar um conjunto de informações soltas, depois compor um roteiro à vontade do freguês,...
-
Escândalo Resgata O Tema Do Caixa Dois Editorial O Globo
18/09/10 A implosão de Erenice Guerra na Casa Civil segue o padrão clássico dos escândalos na política brasileira ao se relacionar, em alguma medida, ao caixa dois de campanha, ao financiamento com dinheiro sujo de atividades partidárias. Ou, no...
-
Um Estado Muito Familiar- Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/09/10 Estado de bem-estar da família da ministra viola impessoalidade no exercício de cargo público, no mínimo ENTÃO SABE-SE que a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, também é adepta do Estado de bem-estar familiar,...
-
(dirceu) Dilma (erenice) -fernando De Barros E Silva
FOLHA DE S. PAULO SÃO PAULO - A Casa Civil teve três titulares sob Lula. O destino ruinoso do primeiro deles abriu a porta do paraíso para a segunda. Dilma Rousseff está hoje na posição que José Dirceu sonhava para si, não houvesse o mensalão...
Política