Assim é a calopsita, a mascote exótica que, segundo
pesquisas científicas, é um dos poucos animais capazes
de dançar acompanhando o ritmo de uma música
Carolina Romanini
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Todo mundo acha adoráveis os filhotes de cães e gatos, mas há quem prefira dedicar carinho a mascotes menos convencionais. Os novos bichinhos eleitos por essa turma são as calopsitas, aves de origem australiana que, reproduzidas em cativeiro, se espalharam pelo mundo nos últimos anos. Dona de um canto semelhante a um assovio, capaz de imitar os sons da voz humana quando treinada, a calopsita é aparentada ao papagaio, mas diga-se isso ao dono de uma delas e ele poderá ficar bravo. Com penas brilhantes, topete à Elvis Presley e vocação para se exibir erguendo os pés alternadamente, ela é um raro caso de ave capaz de demonstrar carinho pelo dono aninhando-se em seu pescoço ou cabeça – como se fosse um gatinho. Quando domesticada desde bem pequena, enquanto ainda se alimenta de papinha especial – que deve ser levada ao bico pelo dono –, torna-se excelente animal de estimação. Pode ser criada até em apartamento. Normalmente, cortam-se algumas de suas penas para que ela não voe muito alto nem fuja pela janela. Crueldade? Dizem os especialistas que não.
"A poda da asa da calopsita, quando feita corretamente, não a prejudica e permite que ela voe, em segurança, de um móvel para outro na casa", diz o veterinário André Grespan, dono de uma clínica especializada em animais exóticos. O comportamento dócil das calopsitas é o que mais fascina. Algumas já ganharam um lar na casa de famosos, como a modelo e apresentadora Ana Hickmann e a ex-primeira-dama do estado de São Paulo Lu Alckmin. Para o empresário paulista Fábio Mansur e sua mulher, Lourdes Martins, que presentearam o filho Fábio, de 7 anos, com a calopsita Querida, o que chamou atenção foi a amabilidade do animal. "Vimos o bichinho pela primeira vez na casa de uma amiga e meu filho se encantou com o ‘passarinho bonzinho’ que vinha à mão e não voava alto", conta a mãe.
O canto e a dança das calopsitas adquiriram notoriedade na internet em 2007 quando uma delas, batizada de Snowball, protagonizou um vídeo em que dançava longamente ao som de sua música favorita, Everybody, da banda Backstreet Boys. O vídeo, além de atrair 3 milhões de espectadores, despertou o interesse de um grupo de pesquisadores do Instituto de Neurociências de San Diego, na Califórnia, que decidiu investigar a dança de Snowball. Para se certificarem de que a ave estava realmente dançando, os cientistas a submeteram a um teste com onze versões de sua música favorita, com o ritmo alterado. Snowball mudava seu gingado a cada nova versão. Aparentemente, ela de fato reproduzia o que escutava com movimentos corporais. O estudo propõe que a habilidade de alguns animais de acompanhar a música com movimentos do corpo é conse-quência de mecanismos desenvolvidos com outros fins, como a capacidade de emitir sons. Esse seria também o processo que, ao longo da evolução, permitiu que o ser humano se tornasse um exímio dançarino.
Estimulado pelo estudo com Snowball, um grupo de pesquisadores da Universidade Harvard analisou 1 000 vídeos de animais – aparentemente – dançantes. Em apenas quinze deles os animais pareciam acompanhar o ritmo da música que ouviam com movimentos do corpo. O grupo era composto de catorze espécies de aves, todas aparentadas à calopsita e ao papagaio, e um surpreendente elefante asiático. "Agora, vamos analisar mais detidamente o comportamento dançarino dos elefantes, para confirmar nossas teorias", disse a VEJA a psicóloga Adena Schachner, que conduziu o estudo de Harvard. Enquanto os cientistas buscam explicações para a dança das calopsitas, elas fazem a delícia de quem as transforma em mascotes.
Poucos animais respondem a estímulos musicais. Uma pesquisa recente da Universidade Harvard mostra que entre eles estão catorze espécies de aves, todas parentes da calopsita, e o elefante asiático. Agora, o desafio dos cientistas é descobrir o que leva os animais a reagir ao ritmo mexendo o corpo – a exemplo do que faz o homem. |