Anjos e Demônios, o filme, cortou exageros do best-seller
que lhe deu origem. Mesmo assim, é um compêndio de
tolices, da bomba de antimatéria à seita fundada por Galileu
Jerônimo Teixeira
Everett Collection/Grupo Keystone |
HEREGES NO VATICANO Langdon (Tom Hanks) e sua parceira italiana (Ayelet Zurer): gincana histórica pelas igrejas romanas |
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Baseado no best-seller de Dan Brown, o filme Anjos e Demônios (Estados Unidos, 2009), que chega aos cinemas nesta sexta-feira, abandonou algumas das piores patacoadas do livro. Não, não veremos Tom Hanks voar pelos céus de Roma com um paraquedas improvisado, embora seu personagem – o simbologista (hein?) Robert Langdon – faça essa proeza no livro. A adaptação dirigida por Ron Howard é até bem esperta. Mas não há como fugir do romance de origem. Respire fundo, leitor, que aqui vai o resumo do enredo: o papa foi assassinado e seu trono está vago; os quatro cardeais mais cotados para assumir o pontificado foram sequestrados e estão sendo mortos com requintados métodos de tortura; uma bomba de antimatéria (de novo: hein?) está escondida em algum lugar no Vaticano; a todas essas, Langdon e uma cientista italiana (interpretada pela israelense Ayelet Zurer) entram em uma espécie de gincana histórica, seguindo pistas deixadas nas igrejas romanas pelos Illuminati, uma seita de inimigos da Igreja fundada por Galileu Galilei. Não adianta deslumbrar o espectador com belas panorâmicas de Roma ou tirar seu fôlego com a correria dos personagens: não tem como engolir tanta sandice de uma vez só.
A história do novo filme toma lugar depois – e não antes, como nos livros – das investigações heréticas que, em O Código Da Vinci, levaram Langdon a descobrir a descendência de Jesus Cristo e Madalena. Langdon já chega ao Vaticano como uma espécie de inimigo dos dogmas católicos, o que cria arestas no seu relacionamento com os religiosos. O centro dos embates, porém, não será o tal casamento que os Evangelhos esqueceram de registrar, mas os conflitos entre ciência e religião. Os diálogos sobre o tema estão entre os momentos mais canhestros do filme. Comparados à discurseira abilolada do padre interpretado por Ewan McGregor (possivelmente na pior atuação de sua carreira), os livros do padre brasileiro Fábio de Melo começam a soar como a Suma Teológica.
A controvérsia religiosa suscitada por O Código Da Vinci impulsionou parte de sua espetacular vendagem internacional, de 80 milhões de exemplares (a propósito, o aguardado novo livro de Brown, The Lost Symbol, deve sair nos Estados Unidos em setembro e no Brasil em dezembro). Mas O Código Da Vinci era também um thriller eficiente, o que Anjos e Demônios (que vendeu aproximadamente a metade) não é. Alguns representantes da Igreja Católica já protestaram contra o retrato distorcido que o filme faria da religião. O Vaticano, porém, não deseja alimentar a publicidade de Anjos e Demônios. De modo geral, tem ignorado o filme. Eis aí uma atitude sábia – até para os não católicos.
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