O Estado de S.Paulo - 07/12/11
No Brasil ninguém dá especial atenção à realização de consultas prévias dentro dos partidos para escolher candidatos a eleições. A tradição é a disputa em convenções ou, mais habitualmente, o acerto de cúpula em torno desse ou daquele nome.
As prévias são vistas mais como um sinal negativo de desorganização partidária do que propriamente como um medidor do grau de democracia interna. Produto talvez do modelo que celebra o conchavo e despreza o papel da sociedade na política brasileira.
O PT enquanto esteve na oposição foi tido como exceção, embora em diversas ocasiões em que se impunha a necessidade da mão pesada o partido não tenha hesitado em recorrer à intervenção "de cima".
Depois de conquistar o poder central - ou melhor, desde quando decidiram se empenhar para conquistá-lo -, os petistas deixaram de lado as veleidades democráticas e aderiram ao padrão vigente.
Ao ponto de a direção anunciar que para as eleições municipais de 2012 a regra é seguir o exemplo da candidatura imposta em São Paulo, arquivar as disputas e fechar questão em torno dos mandamentos da chefia.
Onde há liderança forte, o critério é a vontade do líder. É assim no PT com Luiz Inácio da Silva, foi assim com o antigo PFL em âmbito regional - com destaque para a Bahia de Antônio Carlos Magalhães -, deu certo no PSDB enquanto o partido dispôs de um grupo de referência: Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Tasso Jereissati.
Uns perdiam outros ganhavam, mas era dele que saíam as decisões, embora nele também tenham nascido rachas incontornáveis que até hoje se expressam na divisão responsável por boa parte dos fracassos eleitorais colecionados pelo partido.
Nunca houve prévias no PSDB para escolher candidatos à Presidência. Nem daquelas consultas meramente formais realizadas no PT antes da homologação das sucessivas candidaturas de Lula.
Tampouco houve prévias na seara tucana para escolher candidatos a governador ou prefeito em São Paulo, seu principal reduto.
Na capital paulista, desde a fundação do partido, as escolhas se alternaram entre a entrada de José Serra em cena, em 1988, 1986 e 2004, a candidatura de Fábio Feldman em 1992 por causa da rejeição da cúpula ao postulante da época (Getúlio Hanashiro) e a teimosia de Geraldo Alckmin em 2008.
Mantidas as condições de hoje, ao que tudo indica os tucanos vão inaugurar a prática das prévias em São Paulo.
Não por iniciativa da cúpula, mas justamente a despeito da vontade da cúpula e em decorrência das circunstâncias: a ausência das referências de outrora e o enfraquecimento progressivo do partido que ao mesmo tempo perde identidade junto ao eleitorado e se perde nas mesquinharias internas.
As prévias aí podem representar uma saída para o PSDB. Não necessariamente para ganhar a eleição, mas como forma de arejar o partido, dar vez e voz à chamada base, quem sabe abrir espaço a novas lideranças para recomeçar.
Isso tudo partindo do princípio de que seja verdadeira a disposição de José Serra de não concorrer. Se entrar na disputa, fica o dito pelo não dito e adeus prévias.
De todo modo, o fato de haver já quatro pré-candidatos em andanças por diretórios discutindo política e administração em debates públicos dificulta embora não impossibilite um recuo de última hora.
Se bem-sucedida, a prévia paulistana até poderia servir como experiência para a escolha do candidato presidencial em 2014 em ambiente politicamente muito mais saudável que o império da mesmice ora em cartaz no latifúndio improdutivo também conhecido pelo nome de oposição.
Abaixo da média. A ministra Rosa Weber, indicada para o Supremo Tribunal Federal, não causou, digamos, a melhor das impressões na sabatina de ontem na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Não fosse o colegiado homologatório e a recusa de uma indicação da Presidência da República para o STF, algo fora dos padrões da amena massa crítica do Parlamento, a ministra correria sério risco de reprovação