Deixo a capital do Maranhão rumo ao vale do Mearim. Ficam para trás os bairros grã-finos: Ponta da Areia, Calhau. Há um visível crescimento imobiliário. Um novo prédio, chamado Two Towers, tem cerca de mil metros quadrados por apartamento, que custa R$ 3 milhões. Dizem que foram todos vendidos na planta. A BR-135 não engana. Há buracos e desvios, o calor úmido nos lembra a transição para a Amazônia e o resiliente babaçu domina a paisagem de casas modestas. Levamos quase cinco horas nessa viagem. Faltava água potável, cheirava mal em alguns lugares, havia lixo acumulado e temia-se pela saúde dos desabrigados pela chuva. De todos os problemas imediatos, além da falta de água potável, creio que o desabrigo seja o mais sério. Na última enchente projetaram-se 1.167 casas. Nenhuma foi construída. Quem garante que será melhor agora? As chuvas colheram o governo em plena mudança. O Maranhão tinha mais de um R$ 1 bilhão em caixa, as reservas caíram para R$ 314 milhões. Em Santa Catarina, onde as doações espontâneas foram de R$ 35 milhões, as coisas não andaram como se queria. No Maranhão, onde não se alcançou ainda a marca dos R$ 100 mil, devemos a deixar a esperança no caminho? Com todas as dificuldades imediatas, há um instrumento para o futuro: o comitê de bacia. Ele poderá fazer planos, atrair recursos, sanear, enfim ser mais governo. Exemplo: a barragem do rio das Flores, afluente do Mearim, não abre suas comportas há anos. É controlada por um grupo particular. E não se chega lá, em Joselândia, a não ser de helicóptero. No mês que vem, chegaremos. No Maranhão, é preciso ser resistente como o babaçu, que só morre com doses cavalares de veneno. E não recebe Bolsa Família. |