As conexões de Cachoeira e a “surpresa” de Demostenes
Política

As conexões de Cachoeira e a “surpresa” de Demostenes



Extraído do Blog do Nassif:
Época
com comentário de Wilson Rebello
no Contraponto Marabá

Por José Carlos Lima

Investigação da PF revela fonte do poder de Carlinhos Cachoeira. Contraventor é íntimo de tucanos e demos de Goiás

Isoladamente, nenhum desses casos configura crime. Mas, quando a fonte dos favores é Carlos Augusto Ramos, o conhecido Carlinhos Cachoeira, um dos maiores contraventores do País, personagem para lá de controversa e condenado pela Justiça por diversos crimes, a coisa muda de figura. É este o enredo que ameaça sujar de vez a biografia de alguns dos mais destacados políticos tucanos e democratas de Goiás, como demonstra a reportagem da revista época.

O ex-procurador do Ministério Público e atual senador Demóstenes Torres (DEM/GO) confirma que recebeu de Cachoeira uma cozinha completa como presente de casamento.


Argumenta a) que é amigo de longa data do condenado e b) que acreditava que Cachoeira já tinha se “regenerado”. Sendo amigo por tanto tempo é de estranhar que Demóstenes, sempre tão pronto a reparar nos defeitos de petistas e aliados do Governo Federal, não prestasse atenção ao que fazia seu “amigão” ou que acreditasse na “regeneração” do “amigo”!

Estaríamos diante de um político “tonto”? Nunca vi tal espécie de político! Marconi, pilhado trocando dezenas de torpedos com Cachoeira, diz que valeu-se dos préstimos do sócio de Cachoeira, Wladimir Garcez seu correligionário (sim, Garcez, que já foi vereador, é tucano) e também preso na Operação Monte Carlo da Polícia Federal, “para vender uma casa”.

Por quê, diabos, o governador de Goiás precisaria de um contraventor para intermediar um negócio imobiliário, ninguém explica. Por outro lado, o deputado Jovair Arantes (PTB), líder do partido na Câmara Federal e pré-candidato da legenda à prefeito de Goiânia é um pouco mais sincero. Reconhece que conversa mesmo com Cachoeira e que inclusive lhe pediu ajuda financeira para a campanha que se aproxima. “Tudo dentro da legalidade”, disse Jovair. Claro, claro, dizemos nó, não é queridos?Metade da bancada federal de Goiás é “mui amiga’ de Cachoeira. Torpedos e telefonemas são trocados com habitualidade e demonstram uma intimidade desconcertante entre o crime organizado e as autoridades goianas. O que eles não contavam é que a PF estivesse a escutar e gravar tudo o que diziam. Um escândalo. Fica confirmado que vivemos em uma República na qual as autoridades parecem não cansar em decepcionar seus eleitores.


Veja a seguir trechos da reportagem da revista Época:

Na quarta-feira (29), a Polícia Federal deflagrou a Operação Monte Carlo, com a prisão do empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e dezenas de policiais civis e militares, acusados de envolvimento na exploração ilegal de máquinas caça-níqueis em Goiás e na periferia de Brasília. Foram presos também dois delegados da Polícia Federal e o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá. Cachoeira e Dadá foram personagens de alguns dos principais escândalos políticos, como o Caso Waldomiro Diniz.

Segundo a apuração da PF, Carlinhos Cachoeira mantinha forte influência na política goiana. Nas cerca de 200 horas de gravações telefônicas, captadas com ordem judicial, Cachoeira conversa com freqüência e intimidade com deputados federais de vários partidos e com o senador goiano Demóstenes Torres, líder do DEM no Senado Federal.

De acordo com os investigadores, em julho do ano passado Carlinhos Cachoeira deu um generoso presente de casamento para o senador goiano: uma cozinha completa. ÉPOCA ouviu Demóstenes. O senador confirma ter recebido, em seu casamento, um fogão e uma geladeira do casal Cachoeira. “Sou amigo dele há anos. A Andressa, mulher dele, também é muito amiga da minha mulher”, diz Demóstenes.

Segundo o senador, Cachoeira mantém conversa também com políticos de todas as tendências em Goiás. “Depois do escândalo Waldomiro Diniz, eu pensei que ele tivesse abandonado a contravenção, e se dedicasse apenas a negócios legais”, afirma Demóstenes. “Para mim, foi uma surpresa as revelações feitas por essa operação da Polícia Federal”.

Entre os presos na Operação Monte Carlo, o ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Wladmir Garcez, era interlocutor freqüente do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Segundo investigadores, Garcez trocou dezenas de torpedos pelo celular com o governador. Depois, segundo a polícia, o ex-vereador repassava as informações para Cachoeira. Por intermédio de sua assessoria, o governador Perillo disse que há anos mantém relações políticas com Garcez, com quem fala com frequência e troca mensagens eletrônicas. “Não me lembro bem sobre o que a gente falava, só que ele me ajudou a vender uma casa”, diz Perillo por meio da assessoria.

Nas escutas telefônicas, metade da bancada de Goiás na Câmara conversava habitualmente com Cachoeira. Entre eles, o deputado Jovair Arantes, líder do PTB na Câmara. “Eu sempre falei com o Cachoeira, mas não tenho negócios com ele”, afirma Arantes. “Ele sempre foi ligado à política. Eu liguei recentemente para ele, por exemplo, para pedir apoio porque sou candidato à prefeitura de Goiânia. Mas era uma ajuda legal”.

Outro interlocutor habitual de Carlinhos Cachoeira é o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. “Nossas famílias são amigas há muitos anos. Nunca escondi nossa amizade, sempre freqüentei a casa dele. Mas nunca tive negócios com ele”, afirma o deputado Leréia. 
Extraído de Conversa Afiada de PHA



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