Banco não confia em banco CELSO MING
Política

Banco não confia em banco CELSO MING



 O Estado de S.Paulo
Dia 1.º o euro completou dez anos em meio a atormentada crise de confiança.
Os bancos europeus já não confiam uns nos outros porque não sabem em que situação patrimonial se encontram. Na última terça-feira, o Banco Central Europeu (BCE) recebeu o recorde de 453,2 bilhões de euros em depósitos overnight dos bancos. Todo o mercado financeiro prefere deixar as sobras de caixa no BCE em troca de uma remuneração mais baixa a reemprestá-las a outros bancos. Tem medo de que a qualquer momento sobrevenham novas grandes quebras. Não há falta de dinheiro. Desde maio, só o BCE injetou na economia a bagatela de 211 bilhões de euros em recompra de títulos de dívida da Grécia, Irlanda, Portugal, Itália e Espanha.
O principal resultado dessa procura de refúgio dos bancos no BCE é o brutal estancamento das operações de crédito, que não apenas aumenta as dificuldades para rolagem dos títulos públicos nos mercados, mas também aprofunda a recessão econômica.
Os líderes europeus contribuíram pesadamente para essa enorme crise de confiança. O sistema bancário europeu começara a sangrar alguns anos antes, quando da crise provocada pela quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Esse enfraquecimento cresceu quando os dirigentes europeus, especialmente o presidente da França, Nicolas Sarkozy, insistiam em demonizar todo o sistema financeiro, culpando-o pelo colapso.
O que conta aqui não é o tamanho da responsabilidade dos bancos, mas, sim, o impacto do discurso oficial de que a crise se deve sobretudo à ganância dos bancos - que não fazem outra coisa, segundo eles, senão tirar proveito da fragilidade dos Tesouros dos Estados nacionais do bloco do euro.
Foi essa acusação que justificou a decisão dos chefes de governo de que os credores (os bancos) devessem pagar boa parte da conta da quebra da Grécia.
A primeira consequência foi a institucionalização do calote que, em seguida, aumentou o contágio dos títulos de outros países, especialmente para a Espanha e para a Itália. Outra consequência foi a disparada dos juros pagos pelos países mais endividados da Eurolândia (veja mais no Confira).
A partir do momento em que os bancos ficaram sujeitos a calotes oficiais, passou a ser reconhecido que seus ativos (suas aplicações) não valem o que dizem que valem.
A desmoralização dos balanços bancários já havia começado em julho de 2010, com o fiasco do primeiro teste de estresse aplicado nos 91 maiores bancos europeus. A conclusão fora a de que apenas um punhado de instituições financeiras não precisaria mais do que pequenos reforços de capital. Mas, nas semanas seguintes, quebraram os bancos irlandeses.
Um ano depois, novos testes de estresse apontaram para necessidades de reforço de capital em só oito bancos, num total não superior a 2,5 bilhões de euros. Um mês depois, o Fundo Monetário Internacional (FMI) avisou que seriam necessárias injeções de capital oito vezes maiores, de 200 bilhões de euros.
A encrenca se aprofunda e, no entanto, as autoridades europeias seguem aturdidas e paralisadas pelos próprios erros que já cometeram.



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