Barack Obama propõe o fim dos arsenais atômicos.
A questão é se isso é possível num mundo com
países fora da lei como o Irã e a Coreia do Norte
Duda Teixeira
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PASSADO Explosão no Atol de Mururoa, na Polinésia Francesa, em 1973: os testes na atmosfera já foram banidos |
É possível um mundo livre de armas nucleares? A utopia de um planeta sem o risco da destruição atômica, há tempos ausente dos palanques, foi ressuscitada por Barack Obama no domingo passado, 5. Em discurso a uma multidão de 20 000 pessoas em Praga, na República Checa, o presidente americano disse que os Estados Unidos têm "a responsabilidade moral" de liderar uma campanha pelo fim de todas as armas nucleares. Obama admitiu que a meta de zerar o estoque pode não se concretizar em seu tempo de vida, mas prometeu organizar, no prazo de um ano, uma reunião internacional para debater meios de conter a disseminação de ogivas e mísseis. "A existência de milhares de armas nucleares é o legado mais perigoso da Guerra Fria", disse ele.
Levada ao pé da letra, a proposta do presidente americano parece utópica. Horas antes de Obama tornar público seu projeto, a Coreia do Norte lançou um míssil balístico que sobrevoou o Japão e caiu no mar, a 3.200 quilômetros de distância. O recado de Kim Jong Il, ditador fora da lei, foi explícito: seu regime já tinha a bomba atômica. Agora também dispõe do vetor para jogá-la no Japão ou, dependendo de alguns aperfeiçoamentos, em território americano. O sonho de Obama sofreu outro sobressalto em seguida, quando a China e a Rússia vetaram uma condenação à Coreia do Norte no Conselho de Segurança da ONU. Na quinta-feira passada, foi a vez de o presidente Mahmoud Ahmadinejad anunciar que o Irã completou com sucesso o enriquecimento de urânio – um passo decisivo em direção à montagem de armas nucleares. Uma nova fábrica iraniana de combustível nuclear poderá, quando totalmente operacionalizada, produzir plutônio suficiente para duas ogivas nucleares ao ano.
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BOAS INTENÇÕES Obama discursa em Praga para 20 000 pessoas: reunião mundial para discutir a redução nuclear |
Livrar o planeta dessas armas de destruição em massa seria um alívio para a humanidade. A dúvida é se o mundo estaria seguro caso as grandes potências abrissem mão de seus arsenais. Depois do fim da Guerra Fria, a ameaça do uso militar do átomo já não está nos arsenais das cinco potências que assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear em 1968 – Estados Unidos, União Soviética (Rússia), China, Inglaterra e França. O perigo são as nações nucleares envolvidas em guerras com os vizinhos – Israel, Paquistão e Índia – e, sobretudo, as ditaduras paranoicas da Coreia do Norte e do Irã. Desde 1986, o arsenal nuclear mundial caiu de 70 000 para 27 000 ogivas. Os Estados Unidos e a Rússia estão prestes a assinar um novo acordo, que limitaria os estoques a 1 000 ogivas para cada um. Infelizmente, as sanções internacionais tiveram escasso êxito na tentativa de conter os projetos bélicos da Coreia do Norte e do Irã. Uma redução do arsenal nuclear da superpotência pode ter um efeito indesejado – deixar os aliados inseguros sobre o poder dissuasório dos Estados Unidos ou até incentivar os inimigos a lances mais ousados. É difícil um acordo de desarmamento total se não forem encontradas formas de estancar a proliferação nuclear.
O fato é que não há mais segredo. A tecnologia atômica tem mais de sessenta anos e praticamente está ao alcance de qualquer país com dinheiro e determinação suficientes. Até o terrorista Osama bin Laden poderia comprar algum tipo de artefato nuclear. Os norte-coreanos, com a economia arruinada pelo comunismo, fazem qualquer coisa por dinheiro. Não se pode esquecer que a Coreia do Norte, o Irã e a Líbia compraram clandestinamente tecnologia nuclear de um cientista paquistanês nos anos 90. De toda forma, ao mostrar boa vontade para diminuir o próprio poderio bélico, Obama ganha créditos para pedir que outros países desistam de seus planos atômicos. "Não podemos ter um mundo sem armas nucleares enquanto terroristas tentarem obtê-las, mas é certo também que não precisamos de todas as armas que existem hoje para lidar com eles ou com certos países", disse a VEJA o americano Michael Krepon, especialista em redução de arsenal atômico do centro de estudos Henry L. Stimson, em Washington. A proposta de Obama ainda tem um campo minado pela frente.
Mistérios na corte vermelha
De todos os mistérios envolvendo a Coreia do Norte, o país mais fechado do mundo, um é especialmente intrigante: o estado de saúde do ditador Kim Jong Il. Desde que sofreu um derrame, em agosto do ano passado, ele evita aparições públicas. Nos países comunistas, a visão de um líder definhando é considerada uma séria ameaça ao regime – e, por isso, evitada o máximo possível. Um exemplo é Fidel Castro, que há três anos só pode ser visto pelas lentes cuidadosas dos propagandistas oficiais. O problema com Jong Il é que nem o mais cuidadoso fotógrafo parece capaz de esconder sua fragilidade física. Na foto abaixo, percebem-se sua magreza, seu abatimento, e nota-se que ele precisa de apoio para permanecer de pé. Ele aparenta mais idade que os seus 68 anos. O mistério se adensa: depois dele, quem? Jong Il herdou o posto de seu pai, Kim Il Sung, o fundador da dinastia vermelha. O nome mais cotado para a sucessão é Chang Sung Taek, cunhado de Jong Il e chefe da polícia secreta. Dizem que o ditador o detesta e preferiria passar o trono a seu filho mais novo, Kim Jong Un, de 26 anos, que é a cara do pai e tem temperamento forte. Mistérios. |