As reservas externas já devem ter ultrapassado os US$ 300 bilhões. E
ainda há mais moeda estrangeira nos encanamentos para desaguar por
aqui, porque agora o Banco Central não compra apenas nas operações à
vista, compra por mais dois canais: por meio de contratos de swap
reverso (em que o Banco Central fica comprado em dólares e a outra
parte fica comprada em juros) e por meio de contratos futuros.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem argumentado que essas
aquisições de moeda estrangeira mais a imposição de IOF de 6% na
entrada de recursos externos para aplicações em renda fixa têm evitado
uma valorização ainda maior do real.
A lógica do ministro pode estar quebrada num ponto. Quanto maior for a
blindagem da economia em moeda estrangeira, mais aumenta a percepção
de redução de risco e mais dólares são atraídos para o Brasil. Ou, o
que dá no mesmo, menos moeda estrangeira está disposta a sair daqui.
Um dos fatores que concorreram para que as agências de classificação
de risco passassem certificado de grau de investimento foi o bom
tamanho das reservas.
Se reservas opulentas já atraíam capitais quando estavam a US$ 200
bilhões, mais atraem quando estão a US$ 300 bilhões e ainda mais
atrairão quando chegarem aos US$ 400 bilhões - o que, nesse ritmo, não
levará muito tempo.
O rápido crescimento do déficit em Conta Corrente (contas externas)
ainda poderia atemorizar os capitais mais covardes em consequência da
maior necessidade de financiamentos externos que se destinariam a
cobrir o rombo. No entanto, a montanha refulgente de recursos externos
parece fator suficiente para desarmar esses impulsos.
E não está nem um pouco evidente que a imposição do IOF de 6% esteja
evitando o chamado carry trade (operações que trocam os juros internos
pelos externos). Nada impede, por exemplo, que os capitais continuem
chegando usando outras portas, como os Investimentos Estrangeiros
Diretos ou, então, os empréstimos em bônus no exterior pelas empresas
sediadas no Brasil.
Apesar das maciças compras de moeda estrangeira pelo Banco Central,
nada vem conseguindo reverter a tendência ao real valorizado. A
ascensão da qualificação dos títulos do País nas tabelas de risco,
conjugada com a enorme disponibilidade de recursos lá fora, deverá
acentuar ainda mais essa situação.
O problema vai ser como compensar a perda crescente de competitividade
do produto brasileiro frente à concorrência externa. Até agora, ano
após ano, sempre que isso acontecia, o governo dava um jeito de
compensar com mais câmbio: ou seja, desvalorizava o real com o
objetivo de encarecer o produto estrangeiro e baratear o nacional em
dólares. Como esse truque não é mais possível, a saída é aumentar a
competitividade por meio da redução do custo Brasil: diminuição da
carga tributária e dos juros, eliminação do excesso de encargos
sociais, melhoria e barateamento da infraestrutura. E convém bater no
mesmo tambor: esses passos só se tornam possíveis por meio da redução
das despesas correntes do setor público.
CONFIRA
Desemprego nos EUA
O desemprego nos Estados Unidos cedeu uns pontinhos. O gráfico acima
mostra como vem se comportando. Mas o número de vagas continua
crescendo pouco. Foram abertas em janeiro apenas 36 mil, em vez das
136 mil esperadas.
O céu é o limite
Em apenas 12 meses terminados em 31 de janeiro, as cotações do trigo
subiram 50%; as do milho, 64%; as da soja, 55%; as do café, 80%; e as
do açúcar, 54%. É um rombo no orçamento das famílias mais pobres e uma
chocadeira de descontentamentos e revoltas.