(Giulio Sanmartini) O jornalista e escritor Carlos Heitor Cony (foto) escrevia editoriais no Correio da Manhã, influente jornal carioca, hoje extinto. Em março de 1964, três desses editoriais deram a senha para o golpe que derrubou o presidente João Goulart, com os títulos "Chega!", "Basta!" e "Fora!'. Mas Cony entrou em choque com o então ministro do Exército, Arthur da Costa e Silva. Em função disso, passou a escrever crônicas criticando os militares. Teve que deixar o jornal, todavia não ficou sem trabalho, foi para a editora Bloch, onde era ghostwriter de Adolfo Bloch, defensor do regime militar, essas suas dubiedades fizerem que fosse conhecido no meio jornalístico de Carlos Heitor "Cony vente".
Em 2004, um portaria do ministério da Justiça assinada por Marcio Thomaz Bastos, considerou Cony anistiado político concedendo-lhe uma reparação econômica de R$ 19.115,19 mensais e com efeitos retroativos a 1998, que lhe pagaram R$ 1.417.072,75.
Em 2008, entre um grupo de jornalistas indenizados por "perseguições políticas, as maiores foram concedidas aos cartunistas Jaguar (R$ 1.027. 383, 29) e Ziraldo (R$ 1.253.000,24) e uma pensão vitalícia de R$ 4, 3 mil por mês.
Sobre o que chama "Bolsa Ditadura", escreve Elio Gaspari: "Se alguém quisesse produzir um veneno capaz de desmoralizar a esquerda sexagenária brasileira dificilmente chegaria a algo parecido com o Bolsa Ditadura. Aquilo que em 2002 foi uma iniciativa destinada a reparar danos impostos durante 21 anos a cidadãos brasileiros, transformou-se numa catedral de voracidade, privilégios e malandragens" – e ainda denuncia as gritantes distorções dos valores pagos – "O cidadão que em 1968 perdeu a parte inferior da perna num atentado a bomba ao Consulado Americano, recebe pelo INSS (por invalidez), R$ 571 mensais. Um terrorista que participou da operação ganhou uma Bolsa Ditadura de R$ 1.627. Um militante do PC do B que sobreviveu à guerrilha e jamais foi preso, conseguiu uma pensão de R$ 2.532. Um jovem camponês que passou três meses encarcerado, teve o pai assassinado pelo Exército e deixou a região com pouco mais que a roupa do corpo, receberá uma pensão de R$ 930."
O ainda ministro Gilmar Mendes em 2005, fez uma distinção entre o que é interesse público e o privilégio privado e classifica os valores desmesurados das indenizações como "verdadeira distorção ou patologia, que muito se aproxima de um estelionato"