Política
Brizola Neto: e é consistência o que falta à pesquisa Datafolha.
Brizola Neto
É fresquinho porque vende mais, ou vende mais por que é mais fresquinho?
O título aí em cima é de uma campanha publicitária dos biscoitos Tostines, nos anos 80 e serve para a gente entender porque o sistema – que a gente sabe que não tem qualquer escrúpulo para se proteger – dá tanta importância ao controle da informação, ao ponto de todos – inclusive a Justiça Eleitoral – terem caído em cima do Instituto Sensus pela “ousadia” de ter divulgado uma pesquisa onde desaparece a diferença entre Dilma e Serra.
O argumento central dos questionamentos é o fato de a pesquisa ter sido contratada por um sindicato de trabalhadores. Ora, o Sensus nunca foi questionado por suas pesquisas para uma entidade patronal, como a Confederação Nacional dos Transportes, como o Ibope não o é por suas pesquisas realizadas para a Confederação Nacional da Indústria. Ambas, ao que eu saiba, obtêm seus recursos de constribuições compulsórias dos empregados.
A liberdade de informação que o sistema defende é, na verdade, o monolitismo da informação. Proclamam-se verdades, que não podem ser contestadas e sobre as quais, quando existe, a contestação é considerada “herética”. O estado é ineficiente. Político é corrupto. Funcionário público é preguiçoso. Pouco importa que um serviço público funcione, ou um político enfrente o poder econômico, ou um servidor seja dedicado. A “verdade” se impõe de uma forma dogmática e quem negá-la ou é louco – o que pode se aplicar a valores ideológicos - ou é indigno de ser levado a sério em seus argumentos e até, nas provas que apresentar em defesa deles.
As pesquisas funcionam assim e vão passar a funcionar ainda mais. Não é preciso haver qualquer lógica em seus resultados: eles devem ser aceitos porque provêm de instituições acima de qualquer suspeita e até de qualquer controle público. São “livre iniciativa” e, sendo livre iniciativa, não devem satisfações a ninguém, mesmo que esteja tratando e influindo sobre o que é publico, o que é, aliás, é o mais público que pode existir: o destino da República.
República, como se sabe, é a soma das palavras res (coisa) e publica (do povo).
Os institutos de pesquisa, por isso, são um braço importante do aparato de dominação ideológica que é a mídia. Confundem-se, praticamente Ibope e Globo e Datafolha e Folha de S.Paulo, neste caso ela mesma a proprietária da empresa. Isso, em parte, explica o porque, nos últimos anos, a pesquisa Datafolha passou a ser o principal instrumento para influenciar a formação da opinião pública, de vez que a associação umbilical entre Ibope e Globo carreava a ao instituto a identidade e a suspeição do grupo empresarial.
É preciso entender que a distorção das pesquisas não é uma coisa simplória do tipo “bota tanto para fulano e tira tanto de sicrano”. A deformação pode começar muito antes, na escolha das amostras e, neste caso, a identificação da fraude é praticamente impossível. Não há, em nenhuma pesquisa, qualquer forma de controle possível sobre o “sorteio” dos municípios a serem pesquisados, e em algumas delas, como a da Folha, nem sobre os pontos de aplicação dos questionários – o Datafolha não faz pesquisa domiciliar, ao contrário do Sensus, que vai na casa do entrevistado.
O resultado – salvo manipulações grosseiras – é virtualmente inquestionável porque é verdadeiro para a amostra, embora a amostra possa não ser verdadeira.
E é este resultado vai influir, amplificado pela mídia, no processo de formação da consciência popular.
O único método de verificação de erros – intencionais ou não – de pesquisas é a verificação de sua consistência. É mais ou menos como a léi física da inércia: todo corpo tende a permanecer em movimento ou em repouso, salvo se age sobre ele uma força externa.
E é consistência o que falta à pesquisa Datafolha.
Vejam. Em agosto de 2009, Dilma tinha 17% na pesquisa do instituto. Em dezembro, subiu para 23%. Em fevereiro, para 28%. Aí, subitamente, pára. 27% em março e 28% em abril. A pergunta óbvia é: houve um fato qualquer que fustificasse a trajetória ascendente? Não. O governo Lula passou por uma aqueda de avaliação positiva? Não, ao contrário. A principal razão de deslocamento para Dilma dos votos inlluenciáveis pela indicação de Lula, a falta de informação? Não.
A própria Folha, no comentário de Josias de Souza, na edição de hoje, diz que 14% do eleitorado brasileiro vota, (vota com certeza, notem, não “poderia votar”) no candidato apontado por Lula, mas não aparecem no percentual pró-Dilma porque não sabem que ela é esta candidata.
De outro lado, veja-se o esforço hercúleo de José Serra em vender uma farsa à opinião pública, a de que ele é a favor – e não oposição – a Lula. Esta fraude política, que não merece um reparo em nossos seriísimos jornais, não é a própria confissão de que as eleições serão ganhas por um candidato que encarnar a continuidade e não a oposição ao atual Governo.
Agora junte isso à intimidação – judicial, inclusive – exercida contra Lula para que evite expor claramente que Dilma é a sua candidata e a pesquisas dirigidas para mostrar que Serra “quase já ganhou no 1° turno” e vocês terão a visão nítida do que é o jogo do poder nestas eleições. Dois processos siameses: negar a informação objetiva (Dilma é a candidata de Lula) e propagar a informação distorcida (Serra é o favorito).
Para um, é necessário manietar o presidente. Não pode fazer “campanha durante o expediente”. E a que horas é o “expediente” de Presidente da República? De nove às cinco? Ele ganha hora-extra quando passa disso. Deixa de ser presidente às dez da noite? Aos sábados e domingos? Isso é tão ridículo que nem merece meia linha. É óbvio que o gabinete presidencial não pode se transformar num comitê, mas é indispensável que o presidente possa dizer o que pensa sobre as eleições sempre que desejar. Não pode é pedir votos, mas pode dizer qual é o seu voto.
Porque isso é informação, e informação é democrática, sempre.
Para o outro processo, é preciso acabar com qualquer pesquisa – ou com a divulgação dela – que aponte um quadro diferente do favoritismo de Serra. É preciso criar o que se chama, em comportamento coletivo, de efeito “bandwagon”, ou efeito-manada, que é algo que parte das pessoas tende a fazer por um “instinto coletivo”, sem examinar o mérito e a razão.
Os estudiosos de estatística sabem disso e há até pesquisas, como uma realizada na Bahia, em 1994, onde até 20% dos eleitores acham que o significado de “votar certo” é votar no provável vencedor, para “não perder o voto”.
Este é o jogo. É frente a ele que temos de pensar e agir. Infelizmente, muitos dos nossos amigos do PT sofrem daquela intimidação mental a que me referi no início do texto. É “feio”, é “mentalmente inferior”, é “irracional” duvidar de pesquisas. Como disse no post anterior, o máximo é a ladainha de “retrato do momento”. Conversa fiada. Que retrato, qual o retratista, com que lente, com que olhar, com que foco este retrato se tirou?
Alguns dos companheiros de meu avô me recordam que foi com eleições simuladas em empresas, universidades, praças, que Brizola lutou contra as pesquisas que teimavam em dar-lhe migalhas de intenção de voto. Até eleição simulada dentro da Globo fizeram, e dava sempre Brizola. A parcela mais esclarecida da população resistiu, com isso, a manchetes como “Brizola cai, Moreira dispara”, que O Globo publicou 15 dias antes de sua vitória.
Quase 30 anos depois, temos muitos outros recursos a nosso alcance.
O caminho é o da nossa mobilização. Nosso método é a verdade. Não venceremos este combate sem paixão. Como eu disse mais cedo, temos a tendência de nos acomodarmos e achar que o dragão que enfrentamos é um ser gentil, honesto e ético. Não, ele é um monstro.
Se não o enfrentarmos, ele devorará nossos sonhos.
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