Um deputado vira réu no Supremo Tribunal Federal,
acusado, acredite, de estuprar uma funcionária pública
Diego Escosteguy
Jandyr Nascimento |
ENCRENCA O deputado Gervásio Silva, do PSDB de Santa Catarina: mais um enrolado na Câmara |
Gervásio Silva, contador catarinense de 53 anos, é um dos 513 deputados federais. Até a semana passada, ele cumpria discretamente seu terceiro mandato em Brasília. Na quinta-feira, no mais recente caso da infindável tormenta ética que está destruindo o Congresso, Gervásio, o contador, tornou-se réu por estupro. Você não leu errado: estupro. A ação penal foi aberta pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, que acolheram uma denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal. Segundo os procuradores, Gervásio violentou uma funcionária do município catarinense de Curitibanos. O crime teria acontecido depois de o deputado dar uma carona à mulher até Florianópolis. Ele a conduziu até o hotel onde ela se hospedaria na cidade e, lá chegando, os dois subiram à suíte para jantar. Até esse ponto, a versão de ambos coincide. De acordo com o depoimento da suposta vítima, uma vez no quarto, o deputado despiu-se e investiu com violência contra ela, arrancando-lhe as roupas. Três dias depois, a acusadora prestou queixa na Delegacia da Mulher em Florianópolis. Ela se submeteu a um exame corporal, no qual foram constatados fortes vestígios de agressão sexual. O deputado nega as acusações. Caberá agora ao Ministério Público produzir mais provas até o julgamento do caso, que ainda não tem data marcada.
Roberto Stuckert Filho/Ag. O Globo |
BOCÃO Sérgio Moraes foi afastado da relatoria do caso do deputado do castelão. Ele falou demais |
Atualizando-se o currículo dos ocupantes da Câmara, agora se sabe que: há deputado acusado de estupro, há deputado dono de castelo, há deputado que embolsa dinheiro da verba indenizatória, há (muitos) deputados que viajam pelo mundo com dinheiro público. Há também deputado que se lixa para a opinião pública. Esse, no entanto, se deu mal. Sérgio Moraes, do PTB gaúcho, descobriu na semana passada que seus sentimentos em relação ao que pensam os eleitores e os contribuintes que lhe pagam o salário e as mordomias são correspondidos. Relator do processo de cassação do deputado Edmar Moreira, aquele que escondeu do Fisco um castelão de 25 milhões de reais, Moraes havia sugerido que iria pedir o arquivamento do caso: "Estou me lixando para a opinião pública! Vocês batem, batem e nós nos reelegemos mesmo assim". O desprezo do deputado é compartilhado, em segredo, por numerosos parlamentares. Moraes pecou por sua verborrágica sinceridade. Seus colegas mais ladinos – e hipócritas – perceberam que a opinião pública ficou magoada e queria que o deputado se lixasse. Na quarta-feira, eles afastaram Moraes da relatoria do caso. Episódios assim não acontecem por acaso. Os deputados sabiam que Moraes era o homem certo no lugar certo. Sabiam que ele já foi processado por agressão, favorecimento à prostituição e outros crimes pesados. Eles também se lixam para o eleitor. A diferença é que não são sinceros.