Campanha precisa ser espontânea, afirma FHC
Política

Campanha precisa ser espontânea, afirma FHC


FOLHA DE S. PAULO

Ex-presidente critica ideia de apresentar o tucano como candidato da continuidade


Renata Lo Prete
Editora do Painel

Fernando Henrique Cardoso critica a comunicação da campanha do correligionário José Serra por apresentá-lo como um "candidato de continuidade" do governo Lula. Diz ainda que falta "espontaneidade" aos programas de televisão do tucano.

Na opinião do ex-presidente da República, a eventual eleição de Dilma Rousseff (PT) representa risco não à economia, mas à "vida institucional" do país. De acordo com FHC, o PT "não pratica gestos tresloucados, mas desvirtua as instituições por dentro".

Folha - O sr. teria feito, em palestra para um grupo de economistas, críticas ao marketing da campanha de José Serra. Quais são os erros, em seu entender?

FHC - Fiz e ouvi críticas. À falta de espontaneidade e à ideia de que ele seria um candidato de continuidade.

Folha - Segundo relato, o sr., nessa apresentação, não se mostrou pessimista com o futuro do país em caso de vitória de Dilma Rousseff. É verdade?

FHC - O que eu disse foi outra coisa: que a economia brasileira dispõe de motores fortes. Nesse sentido, eu não sou pessimista. Mas, quanto a riscos de passo atrás na política, na vida institucional, eles estão por todos os lados.

Folha - Que riscos seriam esses?

FHC - O abuso da máquina pública para propósitos partidários, como se vê escandalosamente na atual campanha. Depois, o fortalecimento de uma tendência corporativa, cimentando a aliança entre fundos de pensão, sindicatos e grandes empresas, com o fim político óbvio.

Folha - O sr. também teria dito que o PT não vai fazer "nenhuma maluquice", como não fez no governo Lula.

FHC - Depende do que se entenda por fazer maluquice. O PT tem corroído as instituições públicas por dentro, como cupim. Não pratica atitudes tresloucadas, mas desvirtua as instituições por dentro, como está fazendo, por exemplo, na ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Folha - O sr. acha mesmo que há no país uma tendência à estatização, e que ela será mantida independentemente de quem vença a eleição?

FHC - Não. Eu disse que a matriz estatizante é enraizada no país, em todos os partidos. Mas é óbvio que ela vai se acentuar num eventual governo Dilma, na direção dos sinais visíveis nos dois últimos anos do governo Lula.



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