CELSO MING - Perfurador de bolhas
Política

CELSO MING - Perfurador de bolhas


Dois importantes acontecimentos desta semana questionam as macrofunções dos bancos centrais.
O primeiro deles é a quebra virtual de pelo menos dois países da área do euro: Grécia e Itália, ambos com uma dívida líquida superior a 120% do PIB.
O Tratado de Maastricht, de 1992, que criou o euro, determinou que uma das três condições para que um membro do bloco fosse admitido na união monetária era a de que não tivesse uma dívida líquida superior a 60% do seu PIB. Outra cláusula do Tratado, incorporada pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), assinado pelos países do euro, definiu que o déficit orçamentário de um país da área não poderia ser superior a 3% do PIB. No entanto, neste ano, o déficit fiscal da Grécia deve ultrapassar os 12,7% e o da Itália deve ser superior ao admitido oficialmente: 5,3%.

Em casos de forte deterioração fiscal, um dos procedimentos básicos do administrador público é promover a desvalorização da própria moeda para incentivar as exportações e a produção e desencorajar as importações, hipótese impossível porque a política monetária do bloco (política de juros) não está sob o comando dos Estados-membros, mas do Banco Central Europeu (BCE).
O PEC proíbe que um país da área socorra outro membro. No entanto, se a Grécia decretar moratória, países como Itália, Portugal e Irlanda também podem ser arrastados para baixo.

Como parece inadmissível que os infratores sejam excluídos da zona do euro, até porque nenhum dos membros vem cumprindo à risca o que está no contrato, aumentam as pressões para que o BCE resgate os que correm perigo de naufrágio. Por exemplo, que assuma um pedaço da dívida desses países. Se os bancos centrais podem despejar dinheiro "de helicóptero" para resgatar títulos podres privados e comprar dívida do Tesouro (afrouxamento quantitativo), como ocorreu ao longo desta crise, por que o BCE não poderia absorver os títulos da Grécia e da Itália e, assim, evitar a escalada dos juros de longo prazo embutida no rendimento (yield) deles?

Mas, se um banco central do porte do BCE tiver de fazer resgates de encrencas fiscais, sua função ficará subvertida.
O segundo questionamento sobre as funções de um banco central passou a ser feito a partir da nova posição apresentada por Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), no início deste mês, quando foi sabatinado pelo Senado na condição de candidato a segundo mandato, que deverá começar em fevereiro de 2010.

Bernanke admitiu, pela primeira vez, que uma das funções de um banco central é perfurar bolhas e preservar o sistema financeiro, tarefa não cumprida nos primórdios desta crise.

Ocorre que perfurar bolhas com o instrumento de que um banco central dispõe, que é a política monetária, pode empurrar para cima os juros na economia. E isso poderia acontecer na contramão do que deveria ser feito quando a inflação fosse muito baixa e o risco fosse de deflação, com as encrencas que viriam com ela - como ocorreu entre junho de 2003 e junho de 2004, quando os juros básicos nos Estados Unidos ficaram em 1% ao ano.
E, atenção, os críticos avisam que foram os juros baixos desse período que provocaram as bolhas que estouraram em 2008.

Confira

Rebaixamento - Ontem, a agência de classificação de risco Standard & Poor"s derrubou a avaliação da dívida da Grécia de A- para BBB+ e ameaçou com um segundo rebaixamento.

A avaliação ocorreu oito dias depois de decisão idêntica tomada por outra agência, a Fitch.

O primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, vem afirmando que seu governo garantirá a diminuição do déficit orçamentário para abaixo de 3% do PIB em quatro anos. Mas o problema principal deixou de ser econômico para ser político. O risco é o de que pressões internas na Grécia impeçam o esforço fiscal do governo.



loading...

- Outra Vez, A Grécia Celso Ming
O Estado de S.Paulo Toda a área do euro ficou mais uma vez abalada por informações cujos veementes desmentidos não convenceram ninguém. Na última sexta-feira, a edição digital da revista alemã Der Spiegel não só avisou que a Grécia estudava...

- Celso Ming - A Fragilidade Do Euro
O Estado de S. Paulo - 28/03/2010 A solução encontrada para a crise da Grécia pelos dirigentes da União Europeia impôs importantes condições e revela algumas das graves limitações da moeda comum, o euro. O socorro será providenciado só em...

- Falta César Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 24/02/2010 A Grécia não passa de um nanico econômico. Tem um PIB que é apenas 2,75% da economia da União Monetária Europeia. E, no entanto, a crise que corrói suas finanças está colocando em risco a solidez da moeda única...

- Celso Ming O Euro Sem Chão
O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/02/2010 O problema não está no tamanho do resgate da Grécia. Quaisquer 30 bilhões de euros apagariam o incêndio. O problema está no conceito. Um resgate assim é impensável dentro das regras do jogo e colocaria irremediavelmente...

- Cavalo De Troia Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 24/01/2010   A deterioração das finanças públicas da Grécia é tão profunda que fica difícil acreditar numa saída normal, digamos assim. É um cavalo de Troia dentro da União Monetária Europeia (a área do euro)....



Política








.