O presidente Lula mandou avisar que aproveitará o espaço que lhe cabe no Grupo dos 20 (G-20) para pressionar os seus membros a que adotem o sistema de câmbio flexível. O alvo preferencial do presidente Lula é a China, que mantém um sistema de câmbio atrelado ao dólar. Se o dólar se desvaloriza, o yuan (ou o renminbi, o outro nome da moeda chinesa) se desvaloriza junto com ele. E, se acontece o contrário, o yuan também se valoriza.
Sem querer, Lula acertou no que não mirou. Acertou na Argentina, membro do G-20, que também opera com um câmbio amarrado à moeda americana e que vai produzindo estragos no curral brasileiro. No momento, a desvalorização do dólar em relação a todas as moedas fortes é inevitável porque o epicentro da crise está nos Estados Unidos e os macrorrombos estão abertos lá na economia americana. De mais a mais, a despeito das afirmações em contrário por parte das autoridades americanas, a recuperação da economia do país exigirá um dólar fraco. É o único jeito de estimular exportações e inibir importações.
A China vai tirando grande proveito da crise americana, não só porque toma o espaço geopolítico antes ocupado pelos Estados Unidos. Está tirando proveito também da desvalorização do dólar e, assim, aumentando a agressividade de suas exportações para o resto do mundo.
O presidente Lula chega tarde no jogo de pressões sobre a China. O governo Bush não fez outra coisa senão tentar convencer o governo chinês a revalorizar o yuan, embora não tivesse pedido a livre flutuação cambial. E, por meio do secretário do Tesouro, Tim Geithner, o governo Obama insiste em que a China deva revalorizar sua moeda.
Até agora, a China pôde ignorar todas as pressões porque a administração de sua economia está solidamente edificada sobre uma impressionante capacidade de poupança (de 44% do PIB) e sobre uma montanha de dólares que perfazem reservas de nada menos que US$ 2 trilhões e lhe dão um impressionante poder de barganha. Imagine-se, por exemplo, o que aconteceria com o dólar e com o valor dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos se o governo chinês anunciasse que passaria a liquidar sua posição em dólares. Se até agora ignorou as pressões, não vai ser um apelo dentro do G-20 que fará a China mudar sua posição.
Implicitamente, o presidente Lula vai se enveredando por um caminho que exige a coordenação global das macropolíticas. O problema é que, nesse jogo global, o câmbio é apenas a consequência de um arranjo bem mais complexo e nunca equilibrado
Se é para coordenar políticas, será preciso primeiramente unificar os ajustes na área fiscal, na política de juros (política monetária) e na política de comércio exterior (unificação de tratamento alfandegário). E tudo isso apenas se sustenta se houver uma nova ordem financeira global que substitua o falecido regime estabelecido em 1944, em Bretton Woods.
A economia mundial parece encaminhar-se para algum grau maior de integração, sabe-se lá a que velocidade. E, se isso estiver correto, é bom ter em conta que será inevitável a perda correspondente de soberania.
Confira:
Não aconteceu - Estavam errados aqueles que apostaram na revoada das aplicações financeiras para as cadernetas. Em outubro, os depósitos superaram os resgates em R$ 1,04 bilhão, o que dá apenas 0,34% do patrimônio total.