O Estado de S. Paulo |
29/8/2008 |
Vai ser preciso agora perguntar que recessão é essa, de que tanto se falou. Os números revistos do PIB americano do segundo trimestre vieram substancialmente mais altos do que o esperado. Em julho, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos acusara um avanço anualizado de 1,9%, que então já parecera surpreendentemente robusto (para ficar com a expressão da moda entre os economistas), diante da expectativa anterior de que a crise dos créditos hipotecários podres (subprime) atirara a economia na paradeira. Mas, ontem, saíram as estatísticas definitivas que acusaram um salto anualizado ainda maior, de 3,3% no trimestre. Como não podia deixar de acontecer, os mercados festejaram. Por aí se vê que nem sempre a percepção negativa do que se passa consegue contaminar a economia real. Nos primeiros seis meses deste ano, houve bombardeio sistemático por parte dos analistas de que o setor produtivo americano enfrentava a pior crise desde os anos 30. Mas a radiografia da atividade econômica é esse crescimento aí, o maior entre os países avançados (reunidos na sigla em inglês OCDE), que não foi derrubado pela depressão geral dos espíritos. Não dá para negar a gravidade da crise financeira americana e seu impacto sobre o desempenho do setor produtivo. Basta levar em conta que, nesse mesmo segundo trimestre, a construção civil caiu 15,7% ao ano. Os números positivos vieram de duas fontes principais: da forte expansão do consumo (das famílias), que pesa 66% no PIB e cresceu ao ritmo de 1,7%; e do avanço das exportações de 13,2% ao ano. São três os principais fatores que explicam a esticada do PIB. O primeiro deles é a vitamina injetada na veia, correspondente à devolução de US$ 167 bilhões em impostos iniciada em abril; o segundo, a política monetária (política de juros) frouxa do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que manteve a economia irrigada com fartura de recursos; e o terceiro, a distribuição de créditos especiais para os bancos americanos, que funcionou como ponte de safena que enfrentou a trombose financeira. A simples descrição desses fatores mostra que, em princípio, ninguém está autorizado a esperar desempenho tão bom neste segundo semestre. Os efeitos da devolução de impostos estão em fase de esgotamento. Se os juros do Fed se mantêm baixos, à altura dos 2% ao ano, também não deverão baixar ainda mais. Ao contrário, os números favoráveis do PIB parecem liberar as autoridades a finalmente dar prioridade ao ataque à inflação, o que se faz pelo aumento dos juros. E, finalmente, as janelas de financiamentos bancários especiais que tiveram de ser abertas já foram abertas. A menos que sobrevenha alguma surpresa ruim, também por aí não se espera mais generosidade. Isso sugere que o segundo semestre deste ano não repetirá o excelente desempenho do primeiro. Como as economias da Europa e do Japão estão em retração, a contribuição das exportações americanas para o seu PIB pode também se retrair. Em todo o caso, ficou demonstrado que o diabo não é tão feio como vinham pintando. Fica adiada a tão temida recessão econômica. Confira Risco Argentina - Dia 25, o Banco de España (banco oficial) divulgou documento que apontava a Argentina como país de “risco muito elevado”. Cristina Kirchner, a presidente do país, passou uma descompostura no banco, advertindo que ele devia cuidar da vida dos espanhóis em vez de se meter onde não devia. O diário La Nación fez duro comentário: “Reconheça-se que, antes do Banco de España, foi o presidente Hugo Chávez que considerou a Argentina país de alto risco. Há semanas, Chávez exigiu juros de 15% ao ano para ficar com títulos da Argentina.” |