Celso Ming - Curto-circuito
Política

Celso Ming - Curto-circuito


O Estado de S. Paulo - 27/03/2010


Já havia certa desproporção na decisão do Copom tomada dia 17. Agora, o conteúdo da ata divulgada quinta-feira sugere a existência de uma desproporção entre os fatos e a decisão tomada que pode provocar um curto-circuito na condução da política de juros.

A primeira desproporção aparecera na votação dos diretores do Copom. Foram 5 votos a favor da manutenção dos juros (Selic) no nível de 8,75% ao ano e 3 votos a favor da alta imediata dos juros. E os três que se manifestaram pela alta imediata nem levaram em consideração a hipótese de um ajuste de 0,25 ponto porcentual ao ano. Optaram de uma vez por uma alta de meio ponto.

A segunda desproporção transpareceu da leitura da ata. No parágrafo 26 ficou dito que houve consenso para que o Copom providenciasse um ajuste dos juros. Mas, no parágrafo seguinte, ficamos sabendo que "a maioria (...) entendeu ser mais prudente aguardar a evolução do cenário macroeconômico até a próxima reunião do Comitê".

Fica assim admitido que, se for positivo o cenário macroeconômico que se apresentar na reunião de abril (agendada para o dia 28), o ajuste poderá não ser mais necessário. Isso contraria a conclusão anterior, de consenso, de que é necessário o ajuste.

A ata mostrou que há duas pressões sobre a trajetória dos preços. A primeira delas provém da alta das commodities, que já se traduziu no esticão de 2,3% nos preços no atacado apenas nos dois primeiros meses do ano. Agora, fica inevitável a transferência (pass-through) da alta no atacado para o varejo (custo de vida). Só não se sabe ainda em que proporção.

A outra pressão é interna e tem a ver com "impulso fiscal e creditício sobre a evolução da demanda doméstica". Há duas fontes de "impulso fiscal". Há os efeitos da redução de impostos sobre veículos, aparelhos domésticos e material de construção que começam a ser retirados; e o governo gastando demais, criando renda. Por todos esses fatores, o consumo interno cresce perigosamente acima da capacidade de oferta de bens e serviços, o que, por sua vez, produz uma inflação mais alta do que a admitida pelo centro da meta que, neste ano, é de 4,5%.

Pode haver alguma dúvida sobre a natureza dessas pressões: se são apenas transitórias e, portanto, reversíveis num prazo curto, como são os incentivos fiscais; ou se são pressões permanentes. Se forem reversíveis, não haveria necessidade de puxar pelos juros imediatamente. Mas, nesse caso, não haveria também motivo para consenso para a opção pelo ajuste dos juros.

Há duas hipóteses de explicação para o que se identifica como contradição da ata. Ou houve aí um erro de comunicação, o que, por si só, é grave quando se leva em conta a importância da condução das expectativas dos formadores de preços na execução da política de metas de inflação.

Ou, então, os diretores já estão esperando pela mudança do presidente do Banco Central. Nesse caso, quem assumir o mandato-tampão teria mais condições de passar o recado de que não é pau mandado se der, logo de cara, uma paulada nos juros de meio ponto porcentual ou até de mais do que isso.



loading...

- O Recado Do Banco Central - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 20/07 A falta de novidades na Ata do Copom divulgada ontem não pode ser considerada como falta de recado do Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, aos agentes da economia. E o principal recado que se consegue depreender...

- Faltou Explicação Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 09/09/11 Desta vez, a Ata do Copom, documento pelo qual o Banco Central justifica sua política monetária (política de juros), não acrescentou nada de especialmente novo ao comunicado divulgado logo após a reunião do dia 31...

- Celso Ming -ficou Para 1º De Abril
O Estado de S. Paulo - 01/04/2010 Quando apresentou o novo presidente do Banco Central, em dezembro de 2002, o então eleito presidente Lula o chamou de "companheiro Henrique Meirelles". Como ensinam os filólogos, companheiro é aquele com...

- MÍriam LeitÃo Ata Dos Derrotados
O Globo - 26/03/2010 Os juros vão subir na próxima reunião do Banco Central. A ata divulgada ontem diz que houve consenso sobre a necessidade de aumento. O texto não deixa claro por que eles não subiram, nesta que pode ter sido a última reunião...

- Celso Ming A Inflação Perde Força
O que fica agora para ser discutido não é mais se os juros básicos (Selic) vão ser cortados, mas quanto vão ser cortados. Uma redução de 0,25 ponto porcentual agora parece pouco diante da força do recuo da inflação. Os números do IPCA vieram...



Política








.