Ficou difícil saber para que, afinal, serviu o encontro dos ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 (G-20), realizado neste fim de semana em São Paulo.
A reunião deveria preparar a cúpula de chefes de Estado, também do G-20, marcada para o próximo fim de semana em Washington, que em princípio deverá definir as bases de uma saída para a crise financeira que paralisa o planeta.
Não tinha mesmo de ser conclusiva, mas talvez apenas remotamente tenha servido como preparação para o que tem de vir.
De todo modo, deu para entrever sérias divergências sobre a maneira como lidar com esta crise e com as mazelas da globalização financeira.
Os líderes europeus querem uma solução abrangente, uma espécie de refundação do sistema capitalista. Querem, também, novas instituições multilaterais que, ao mesmo tempo, fiscalizem e supervisionem instituições financeiras bancárias e não bancárias. O primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, fala até mesmo em enquadrar paraísos fiscais.
Os Estados Unidos, por sua vez, não querem grandes mudanças. Pressupõem que basta aplicar corretamente as regras vigentes e que a questão esteja em saber como impedir as transgressões. Defendem, sim, uma recauchutagem (e não mais do que isso) das instituições hoje existentes. O Fundo Monetário Internacional (FMI) talvez assumisse a função de organismo internacional de monitoramento. Seria uma espécie de detector de gases venenosos que apontasse vazamentos onde houvesse. Mas, provavelmente, não teria mandato para exigir o cumprimento de regras dos governos, bancos centrais e bancos internacionais.
Há em jogo uma questão política. Os europeus parecem aproveitar-se de um momento de fragilidade do governo americano em fase de transição para tentar empurrar instituições em que depois puxassem mais cordéis do que puxam hoje. E, diante disso, o governo americano ganha tempo para, logo a seguir, do alto do poder hegemônico que ainda possui, dizer o que tem de ser feito.
Afora isso, algo na atitude do governo brasileiro é lamentável e irrealista. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, abriu o encontro do fim de semana avisando que não pretendia estar lá apenas para tomar cafezinho nos intervalos e, mais do que simples uso da voz, defendeu maior participação do governo brasileiro na definição de soluções à crise.
Enfim, Mantega quer ter participação ativa na mudança das regras do jogo, mas, domingo, limitou-se a dizer que não tem propostas a fazer. Deveriam elas partir dos países ricos: "Quem pariu Mateus que o embale", disse.
Se é assim, o que mais do que compartilhar um cafezinho de boa qualidade com autoridades de outros países Mantega poderia pretender?
Com alguma crueza, a ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, foi direto ao ponto quando observou: "O Brasil quer ter mais peso no FMI, mas não quer aumentar suas contribuições."
As autoridades da China, por exemplo, não são de muito falar. Mas agem. No domingo, aprovaram um pacote fiscal de US$ 586 bilhões que vai financiar investimentos em infra-estrutura e o aumento do consumo. Ainda que insuficiente, foi uma resposta efetiva para a superação da crise.
CONFIRANão é para nós - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não esconde seu desacordo com o novo mantra do ministro da Fazenda, Guido Mantega: a necessidade de uma política anticíclica.
É gastar ou não gastar. Mantega entende que é preciso gastar para garantir um crescimento econômico superior a 3% ao ano em 2009. Meirelles acha que, nas circunstâncias, 3% está de bom tamanho.
Ontem, Meirelles disparou: "Atitudes anticíclicas dependem da situação de cada país." Ou seja, para Meirelles, o Brasil não precisa do que para a China passou a ser necessário.
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