Na percepção do eleitor americano médio, o candidato democrata, senador Barack Obama, a ser sacramentado na convenção do Partido Democrata que começa amanhã, não navega bem em assuntos econômicos.
E, no entanto, um dos principais temas dessa campanha deveria ser a crise econômica em que o país está mergulhado há mais de um ano.
O americano médio se sente duramente atingido no bolso. O dólar, que ainda é o dólar, símbolo de força e saúde econômica, perde valor a olhos vistos; a casa própria, um dos sonhos americanos, perde preço no mercado imobiliário; e o salário é corroído por uma inflação de 5,6% ao ano e pelo aumento do desemprego.
Apesar do seu carisma, Obama não chega a empolgar com sua plataforma de projetos para a área econômica. Defende aumento dos investimentos públicos, principalmente em infra-estrutura e reformas no sistema nacional de saúde.
Sua proposta de seguro-saúde universal é voltada para eleitores que não conseguem pagar um plano privado. Nos Estados Unidos, não há um sistema de atendimento para todos, como acontece no Brasil onde, mal ou bem, o SUS funciona. Lá, um seguro para família de quatro pessoas não sai por menos de US$ 400 ao mês. Seu projeto implicaria custeio anual para o Tesouro americano de algo em torno de US$ 50 bilhões a US$ 65 bilhões.
As reformas seriam financiadas por aumento da carga tributária dos americanos que ganham ao ano mais de US$ 250 mil, segmento especialmente beneficiado pelos pacotes de cortes fiscais aprovados no governo Bush em 2001 e 2003. Obama não esconde que, em dez anos, pretende aumentar a arrecadação federal em US$ 800 bilhões.
Em assuntos de comércio exterior, assume seu protecionismo. Defende a continuação dos subsídios agrícolas e do programa de etanol a partir do milho, embora reconheça que essa matéria-prima é cara e prejudica a oferta de alimentos. Até 2030, prevê uma produção anual de 60 bilhões de galões (227,1 bilhões de litros de biocombustíveis), 733% acima da produção atual.
Seus compromissos com os sindicatos, que atacam a exportação de empregos (por meio do aumento das importações de produtos asiáticos) o levam a condenar acordos bilaterais. Ao longo das primárias democratas, defendeu a revisão do Nafta (North American Free Trade Agreement), que os Estados Unidos mantêm desde 1994 com o Canadá e o México.
Apesar de contar com grande apoio dos jovens, Obama começa a perder espaço no eleitorado, que teme o aprofundamento da crise e o considera pouco preparado para lidar com os atuais problemas.
Como lembra a revista The Economist, são essas as pessoas que mais estão sentindo o rigor da crise. "Os americanos cresceram em tempos de prosperidade. Eleitores jovens não se lembram de uma séria recessão, desde a última, que ocorreu no início dos anos 90."
Se continuar no mesmo diapasão, a campanha democrata será incapaz de tirar proveito da crise, em grande parte criada pelo governo republicano de George W. Bush.
E não deixa de ser irônico lembrar que o democrata Bill Clinton venceu o republicano Bush (pai) em 1992 sob o slogan "É a economia, idiota!"
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