Política
Celso Ming Abrem-se vagas
O Estado de S Paulo
12 de agosto de 2010 | 18h37
Há alguns anos, quando se tratava de criar empregos no Brasil, o governo repassava incentivos à construção civil. Os dirigentes ainda pensam um pouco assim, certos de que este é um dos setores com mão de obra intensiva de resposta mais rápida a um estímulo governamental.
De uns tempos para cá, a ênfase do governo passou para a indústria. Emprego estável e com capacidade de se multiplicar em outros subsetores da economia é o que pode ser proporcionado pela produção de manufaturas.
BHAGWATI - Além da indústria (Foto: Reprodução)
O economista Jagdish Bhagwati, da Universidade Columbia, assinou dia 11 artigo no Financial Times, de Londres, questionando nos Estados Unidos a política que elege o emprego industrial como o mais merecedor de empurrão oficial. Seus argumentos são válidos para qualquer país, inclusive para o Brasil. Bhagwati, de origem indiana, se celebrizou há alguns anos por ter criado a expressão “tigela de espaguete” (spaghetti bowl) para caracterizar a profusão de acordos comerciais bilaterais que aconteceram no mundo na falta de um grande acordo que atualizasse a Rodada Uruguai, de 1986.
Ele critica o presidente Obama pela sua afirmação de que o socorro à General Motors resgatou “o coração e a alma da manufatura americana”. Também critica o presidente da General Electric, Jeffrey Immelt, por ter proposto em julho que o “emprego industrial nos Estados Unidos corresponda a pelo menos 20% do emprego total”. E alfineta os democratas do Congresso por terem lançado o programa “produza-o nos Estados Unidos”.
Bhagwati argumenta que a grande procura por serviços não comercializáveis, como enfermagem e a abertura de asilos, tem a mesma eficácia na criação de vagas e, no entanto, não recebem o mesmo tratamento das autoridades. E, há menos de um mês, o presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, fez um apelo aos bancos para que concedessem mais crédito à pequena e média empresa, na medida em que são fortes geradoras de oportunidades.
No Brasil, prevalece a mesma atitude criticada por Bhagwati. Os dirigentes políticos tendem a não dar importância à capacidade de geração de empregos na pequena e na média empresa (inclusive na indústria), que hoje são responsáveis por nada menos que 13 milhões de postos de trabalho no País. Se, em média, cada uma dessas empresas abrisse uma nova vaga, seriam mais 4 milhões de empregos.
No setor de serviços, criam-se no momento enormes oportunidades de trabalho, que, no entanto, são desprezadas pelos encarregados das políticas públicas. O mercado precisa cada vez mais de prestadores de serviços na área de assistência técnica, no suporte de operações de informática e na telefonia. Apenas o crescente segmento dos call centers, que há dez anos era insignificante no Brasil, está empregando 1,2 milhão de funcionários. Trata-se de um setor ainda pouco organizado e onde prevalece baixo nível de treinamento, mas que tem muito a se expandir e que deveria receber mais suporte das autoridades pelo seu grande potencial empregatício.
Evidentemente, ninguém está defendendo o rebaixamento da indústria. Trata-se apenas de dar o mesmo valor atribuído ao emprego industrial às vagas em outros setores da economia, que apresentam a mesma capacidade de gerar valor e de multiplicar postos de trabalho.
Confira
Aumentam as demissões. Hoje, o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos apontou que mais 2 mil trabalhadores americanos recorreram ao serviço de auxílio-desemprego na primeira semana de agosto, aumentando para 484 mil casos, o nível mais alto desde fevereiro. Esse dado contrariou as projeções dos analistas que esperavam uma queda de 14 mil pedidos.
Paradeira à vista. O crescimento das demissões reflete a falta de confiança no futuro da atividade econômica da maior potência mundial. Além de evitar novas contratações, os administradores de negócio intensificaram as demissões. Aparentemente, essa atitude revela a expectativa de retração do consumo e da produção por parte dos empresários.
O Fed avisou. Essa atitude foi reforçada no início desta semana pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que fez uma análise mais sombria do que se esperava da economia dos Estados Unidos.
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