O Estado de S. Paulo - 09/10/2009 |
A gente já sabe, por declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que o governo está preocupado com o rali do real e com os altamente prováveis efeitos da valorização da moeda brasileira sobre a competitividade do setor produtivo - e não apenas da indústria. Em vez de se preocupar, o governo deveria se ocupar em arranjar uma saída para o problema, que jamais será fácil. Para começar, é preciso descartar falsas soluções. A enorme entrada de dólares nada tem a ver com especulação (arbitragem) com juros nem com o grande salto na exportação de produtos primários (commodities). Por isso, não seria a eventual derrubada unilateral dos juros pelo Banco Central, que de resto levaria o risco de destruir o sistema de metas de inflação, que reverteria o tombo do dólar no câmbio interno. Tampouco faria sentido impor confisco às exportações de commodities, como vêm defendendo os economistas Luiz Carlos Bresser-Pereira e João Sicsú. Se é para proteger o exportador, não cabe prejudicá-lo. Além disso, seria um tiro no pé impor taxação ou quarentena à entrada de capitais de longo prazo. As subscrições de ações por investidores estrangeiros vêm para fortalecer empresas que atuam no Brasil ou para financiar projetos de longo prazo. A rigor, o problema não está na fragilidade do dólar. Está na baixa competitividade do setor produtivo do Brasil e na baixa taxa de poupança do brasileiro. Também não se pode insistir em que o Banco Central siga amontoando reservas indefinidamente. Não foi a exibição de reservas de US$ 205 bilhões que permitiu que o País surfasse na onda da crise? E não foi esse um dos fatores que estão atraindo capitais? Imagine-se então o volume de moeda estrangeira que chegaria se as reservas saltassem para US$ 300 bilhões. Qualquer solução responsável passa pela redução do custo Brasil, que é a verdadeira bola de ferro presa aos pés do setor produtivo e o impede de deslanchar, e não o câmbio. E derrubar o custo Brasil significa baixar a carga tributária; diminuir os encargos sociais que pesam sobre a folha de pagamentos das empresas; afundar os juros na ponta do crédito, que é o que realmente conta na produção; investir na infraestrutura para que a produção possa contar com estradas, portos, armazenagem, comunicações modernas e baratas; agilizar a Justiça para garantir soluções rápidas para os conflitos; e, obviamente, eliminar o excesso de burocracia. Qualquer principiante em Economia sabe que atacar esses gargalos implica fazer reformas, as mesmas que vêm sendo propostas há 20 anos e que não saem da gaveta (reforma tributária, reforma trabalhista, reforma sindical, etc.). E implica racionalizar as atividades do Estado, ou seja, baixar corajosamente as despesas correntes do setor público. Um punhado de empresários e economistas insiste em dizer que o Brasil tem de agir como a China. Mas a China é o que é porque tem um Estado centralizador e autoritário, um setor financeiro inteiramente submisso e poupa 44% da renda (e não apenas 17%, como o Brasil). E aí estamos apontando também para as limitações e consequências do baixo nível de poupança existente no Brasil. Confira Dólar forte? Ontem o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, avisou que é de interesse do mundo o fortalecimento do dólar. Disse mais: que os grandes bancos centrais ajudarão nisso. Todos entenderam que Trichet está preocupado com a excessiva valorização do euro. A ideia do superdólar ninguém mais engole. O governo dos Estados Unidos faz de tudo para que haja recuperação das exportações americanas. Não se consegue esse objetivo com o dólar forte. Ao contrário, só se o viabiliza com o dólar desvalorizado. |