10 de março de 2012
Os decepcionantes resultados da indústria em janeiro podem ter sido agravados pela crise externa ou por fator sazonal atípico. Mas não foram causados por eles. São resultado das omissões deste governo e dos anteriores.
A queda da produção física em janeiro sobre o mês anterior foi de 2,1%, como apontou o IBGE na última quarta-feira. E a redução em 12 meses terminados em janeiro, de 0,2%. Alegações de que o mês foi atípico, por causa das férias coletivas da indústria, não têm cabimento. Embora também tenha sido atípico, janeiro de 2011 apontou produção industrial física 2,3% maior do que a de janeiro deste ano.
O desempenho ruim deste início de ano vem quando o consumo avança perto dos 5% – mostraram as Contas Nacionais – e há pleno emprego. Ou seja, quando o mercado interno cresce vigorosamente, mas não consegue ser plenamente atendido pela indústria. Outro sinal de que o setor perde competitividade.
O governo ainda aposta em que o aumento dos investimentos na área, a partir deste ano, melhorarão seu desempenho. Mas os obstáculos de base continuam aí.
Como pode a indústria enfrentar o jogo duro da crise global se arca com carga tributária de 36% do PIB? Ainda nessa sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconhecia que era preciso levar adiante a desoneração dos encargos sociais que incham as folhas de pagamentos. E, no entanto, já em fevereiro de 2011, a presidente Dilma prometia prioridade à tal desoneração, adiada indefinidamente e, ainda assim, quando sair, será por período relativamente curto.
Como a indústria do Brasil pode competir se, num país em que quase 80% da matriz energética é de fonte hídrica (ou seja, tem custo zero de matéria-prima), lhe é cobrada a quarta mais alta tarifa por quilowatt/hora do mundo?
Os dados do Banco Central mostram que as empresas pagaram, em fevereiro, custo (médio) de 40,9% ao ano nos juros para desconto de duplicatas; de 55,8% ao ano para desconto de notas promissórias; de 26,o% ao ano para financiamentos de capital de giro; e de 109,1% ao ano para financiamentos de conta garantida. Que empresa enfrenta impunemente essas despesas financeiras? Ou, perguntado de outra forma, de quanto precisa ser o lucro para enfrentar essas contas?
Há um mês, a consultoria MB Associados apontou que os custos de logística estão em 20% do PIB no Brasil. Enquanto isso, são de 10,5%, nos Estados Unidos; de 12,0%, no Canadá; de 13,0%, na Alemanha; e de 20,0%, no México.
Essa baixa competitividade não começou anteontem. Vem lá de trás, dos tempos de substituição de importações e das políticas industriais distorcidas. Mas vinha sendo compensada com generosas desvalorizações da moeda nacional, que barateavam em dólares o produto exportado e encareciam em moeda nacional o produto importado.
Não dá mais para prosseguir com esse arranjo. E, no entanto, o governo federal não tem nenhum plano firme e abrangente destinado a atacar com coragem as reformas que fortificarão a indústria.
CONFIRA
Como mostra o gráfico, apenas no mês de março a alta do dólar no câmbio interno (desvalorização do real) foi de 4,0%. Mas, na acumulada do ano, a queda ainda é de 4,6%.
Intervenção. A compra de moeda estrangeira no mercado à vista pelo Banco Central continua sendo o principal mecanismo pelo qual o governo Dilma intervém no câmbio para deter a baixa do dólar. O resultado dessas compras é incorporado às reservas externas. No dia 8, o volume das reservas externas estava nos US$ 357 bilhões, 1,5% superior ao saldo do final do ano.