17/09/2009
Assim como o dia 24 de outubro de 1929, o do crash da Bolsa de Nova York, marcou o início da Grande Depressão dos anos 30, o dia 15 de setembro de 2008, o do afundamento do Lehman Brothers, está sendo visto como o início do colapso que a ele se seguiu. Até então, a crise se restringia ao setor financeiro; a partir desse dia, passou a ser da economia global. Foi quando a crise de Wall Street passou a ser a crise da main street, como se disse na época.
Tão logo foi decretada a liquidação do Lehman, o crédito secou em todo o mundo porque banco deixou de confiar em banco, os mercados entraram em pânico, o sistema produtivo estancou, ninguém mais conseguiu definir quanto valia qualquer ativo.
O Lehman quebrou aparentemente porque o então secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, temeu ser processado por injetar dinheiro público em bancos irresponsáveis. Ofereceu, então, uma vítima importante para ser sacrificada e servir de exemplo.
A ruptura do funcionamento dos mercados e da confiança aconteceu porque prevalecia até então o princípio não oficializado de que banco capaz de provocar risco sistêmico (quebra em cadeia) seria inevitavelmente socorrido pelas autoridades. O desmantelamento do Lehman apontava a quebra dessa regra.
De lá para cá, os analistas se dividem entre aqueles que entendem que a decisão tomada foi um grave erro e aqueles para os quais alguma coisa teria de ser feita para restabelecer a noção de responsabilidade e risco.
O que se pode dizer é que, se não fosse a liquidação do Lehman, provavelmente a crise evoluiria como uma pneumonia mal curada, mais ou menos como ficou a economia inglesa depois da intervenção no banco Northern Rock, que não atava nem desatava. Foi a ruptura que se seguiu que mobilizou os governos, criou a percepção da gravidade do problema, provocou as reformas, ainda que insatisfatórias, do sistema financeiro e abriu espaço para o aperfeiçoamento da regulação e supervisão das instituições financeiras.
Por último e não menos importante, consolidou o princípio de que instituição capaz de provocar risco sistêmico - e não apenas banco - não pode ser abandonada à própria sorte, como ficou sacramentado em comunicado do Grupo dos 20 em março deste ano.
Mas o ovo da serpente continua intacto. Parece impossível conciliar administração financeira responsável com a falta de um sistema de punição para lambanças de todo tipo. Se o Estado garante o futuro dos grandes bancos, mais cedo ou mais tarde seus dirigentes se lançarão a novas aventuras.
Há quem afirme que basta um sistema eficaz de fiscalização e controle para que o vício original seja evitado. O problema é que, ante uma prática desse tipo, todo o sistema tende a cair no vício, como aconteceu antes do estouro da bolha. Os organismos encarregados da vigilância não vigiaram; os auditores passaram atestados de excelência a ativos financeiros que depois foram rotulados de lixo tóxico; as seguradoras garantiram créditos insustentáveis; e as agências de classificação de risco distribuíram certificados AAA para dívidas que depois foram caloteadas.
Enfim, um ano depois do acontecido, ninguém está em condições de dizer que tudo isso não mais se repetirá.
Confira:
Nada mau - O anúncio na semana passada de que o PIB do segundo trimestre cresceu 1,9% ante o primeiro mais os dados do emprego ontem divulgados reforçam a percepção de que o risco de recessão foi embora.
Parece inevitável que a economia produza uma corrida para formação de estoques de fim de ano. Isso tende a pressionar a balança comercial. Mais consumo interno reduzirá as exportações e aumentará as importações.
Do ponto de vista das políticas públicas, ficou estratégico agora garantir mais investimento para que a produção tenha capacidade de resposta ao aumento da demanda que vem aí.