Política
Celso Ming O PIB da marolinha
O ESTADO DE S. PAULO
Este é o PIB da marolinha, obtido no ano de maior crise financeira global desde os anos 30.
Nas circunstâncias, uma queda da renda de apenas 0,2% em 2009 não foi mau resultado. Apesar de ter ficado abaixo do nadinha, foi o sexto melhor desempenho do Grupo dos 20 (G-20), como observou ontem a BBC (veja, também, o Confira).
Como já se esperava, o ponto alto de 2009 é o quarto trimestre, que determinou o tamanho do embalo com que a produção de riqueza em 2010 vai sendo empurrada: crescimento de 2,0% em relação ao trimestre anterior.
O ponto mais insatisfatório do ano passado foi o comportamento persistentemente fraco do investimento (Formação Bruta do Capital Fixo), que correspondeu a apenas 18,7% do PIB, o mais baixo dos últimos três anos.
Também desta vez, a maior parte do investimento (41%) correspondeu à construção civil, que apenas marginalmente pode ser entendida como aumento de capacidade de produção. Além disso, é difícil avaliar a qualidade dos outros itens que compõem o mix dos investimentos.
Investimento no comércio, por exemplo, multiplicará menos riqueza do que investimento na infraestrutura. Também não temos ideia do tempo de maturação do investimento médio a cada momento no Brasil: dois anos? Quem sabe, três; ou não seria mais? E seria muito bom que se soubesse a quantas anda o investimento em tecnologia da informação, um fator que vem multiplicando renda no mundo.
O avanço relativamente baixo do investimento pode fazer falta dentro de mais alguns meses, à medida que o consumo interno continuar seguindo na frente do aumento da capacidade de produção.
Para este ano, não dá para divergir das projeções disponíveis. A perspectiva é mesmo de que a atividade econômica do Brasil cresça em torno dos 6%. E, mais uma vez, será um desempenho vigoroso quando comparado com o que está acontecendo nos países de alta e média renda.
Não dá para acompanhar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que insiste em afirmar que essa velocidade é sustentável. Ela está sendo construída sobre um avanço forte demais do consumo das famílias (crescimento no quarto trimestre de 7,7% quando comparado com o quarto trimestre de 2008). Esse avanço, por sua vez, tem a ver com o aumento em torno de 17% das despesas correntes do governo federal.
Lá na frente alguém terá de pisar nos freios e não será apenas o Banco Central. As importações estão crescendo mais de 30% neste ano e o rombo nas contas externas (Contas Correntes do Balanço de Pagamentos) saltará em 2010 para alguma coisa próxima dos US$ 50 bilhões, ou 3,0% do PIB, tendendo a passar para US$ 60 bilhões em 2011 (3,5% do PIB). Qualquer estudante de Macroeconomia sabe que déficit em Conta Corrente significa excesso de consumo.
Por enquanto esse déficit está sendo satisfatoriamente financiado com investimentos externos.
Mas pode chegar o dia em que a qualidade desse financiamento se deteriorará. Antes disso, será preciso reequilibrar as finanças do setor público (inclusive as dos Estados e municípios), e não apenas puxar pelos juros.
Confira
PIB PELO MUNDO
Índice de crescimento em 2009
Em porcentagem
China 8,7
Índia 6,1
Peru 0,9
Brasil -0,2
Suíça -1,5
Chile -1,7
França -2,2
EUA -2,4
Canadá -2,6
Espanha -3,6
Zona do Euro -4,0
Reino Unido -4,8
Suécia -4,9
Japão -5,0
Itália -5,0
Alemanha -5,0
México -6,5
Romênia -7,2
Rússia -7,9
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