Nos Estados Unidos, a decisão foi aliviar ainda mais. Aqui, foi não apertar ainda mais.
São políticas diferentes, com objetivos semelhantes e resultados provavelmente equivalentes. Como a decisão do Copom já foi comentada domingo, esta coluna vai focar a análise do passo dado pelo banco central americano, o Federal Reserve (Fed), que ontem derrubou os juros básicos (Fed funds) em mais meio ponto porcentual, para 1% ao ano.
Voltam assim para o nível em que estiveram por 12 meses, de junho de 2003 a junho de 2004. Esse período é parte do compreendido entre novembro de 2000 e novembro de 2004, que vem sendo apontado como o de maior fartura de recursos da história econômica recente.
O objetivo dessa política foi combater a recessão que se seguiu à crise da internet. Mas o Fed deixou tanto dinheiro à disposição que os mercados se puseram a assoprar uma bolha atrás da outra, processo que culminou nesta crise das hipotecas podres.
Desta vez, o Fed está usando os juros baixos para reverter a atual crise financeira, mais ou menos como o veneno de cobra é usado para curar picada de cobra. O crédito bloqueado nos Estados Unidos e os indicadores econômicos apontam para um panorama de forte recessão com tudo o que vem junto: redução do consumo, queda da produção, desemprego, quebra geral de rendas. Juros mais baixos ativam consumo e negócios e podem ajudar a reverter a paradeira.
São juros reais negativos, uma vez que a inflação americana está perto dos 5%. Mas juros tão baixos devem produzir outro efeito colateral: o de tirar capacidade de manobra do Fed na sua política monetária, como alguns comentaristas vêm observando.
É que, para combater a inflação, ele tem de aumentar os juros (tirar dinheiro do mercado), e, para combater a recessão, tem de reduzi-los (aumentar o volume de dinheiro). Juro zero ou quase zero, como é o caso do Japão, tira capacidade de injetar dinheiro pela política monetária, se vier a ser preciso.
Afora isso, já se vê que a fase aguda da crise pode ter ficado para trás. As autoridades dos Estados Unidos e da Europa estão conseguindo capitalizar os bancos e socorrer as instituições financeiras a perigo. Além de tentar desobstruir os canais de crédito, os bancos centrais assumiram tarefas até mesmo além do limite do seu mandato, como a de injetar recursos diretamente no caixa de empresas por meio do desconto de commercial papers (promissórias). O resultado é a volta de certo nível de confiança e o refluxo do pânico.
Falta atacar os problemas de fundo. Os analistas repetem que a recessão será profunda e prolongada. E o comunicado do Fed, emitido junto com a decisão do corte dos juros, fala que "o ritmo da atividade econômica parece ter-se desacelerado marcadamente". Como a política de juros chega a seu limite, se esse passo não for suficiente para reverter o problema, o próximo recurso será ampliar as despesas públicas (política fiscal).
E podem vir outros desdobramentos, hoje imprevisíveis, dado que essa crise é diferente das outras. Em todo o caso, conta com forte intervenção estatal coordenada. Por enquanto, o que tem de ser feito está sendo feito.
E veio a pausa - Como esperado, o Copom decidiu manter os juros básicos em 13,75% ao ano. Isso não significa que tenha desistido de aumentá-los, como sugeriam análises anteriores do Banco Central. Tudo vai depender de como evoluirá a crise.
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