Celso Ming Portugal segue a Grécia
Política

Celso Ming Portugal segue a Grécia


O Estado de S. Paulo - 25/03/2010


Portugal vai escorregando para o mesmo abismo da Grécia. Ontem, a geralmente mais ágil das três mais importantes agências de classificação de risco, a Fitch Ratings, rebaixou os títulos soberanos de Portugal. Isso significa que, na percepção dos investidores globais, o calote português passou a ser mais do que mera hipótese.

Como já há o precedente da Grécia e como Portugal encabeça uma sigla (Pigs) que exala mau conceito global, o rebaixamento da Fitch é um empurrão para rolar ladeira abaixo - a menos que algo novo aconteça para virar o jogo.

Daqui para a frente, como também aconteceu com a Grécia, Portugal terá ainda mais dificuldades para levantar financiamentos no mercado global, os juros saltarão para os 6% ao ano (o dobro do que pagam os títulos da Alemanha) e, como sempre acontece nessas horas, abutres e chacais correrão para tirar proveito da situação. Nessas condições, de pouco valem as queixas contra a ação dos especuladores, como as do primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou.

A encrenca está longe de se ater aos Pigs (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha - com a eventual companhia da Itália). Essa é uma tragédia que atinge toda a área do euro e mesmo economias importantes da Europa, como a Inglaterra e a Polônia.

As finanças desses países, que já vinham carregadas demais em consequência do dispêndio com transferências sociais (welfare state), enfrentaram agora o choque da crise global, que multiplicou as despesas públicas com seguro-desemprego e socorro aos bancos, num ambiente já devastado pela recessão e quebra da arrecadação.

A área do euro vive um momento crucial de ou vai ou racha. Estão mais do que claras as graves limitações de fundamento da segunda mais importante moeda de reserva do mundo. A incapacidade do Banco Central Europeu de desempenhar a função de emprestador de última instância a seus bancos e a falta de unidade fiscal dentro do bloco expõem alguns países mais do que os outros aos choques externos, como este aí, da crise global. Enfim, não há convergência de políticas, apesar dos tratados que procuraram assegurá-la. Os enormes desequilíbrios que daí advêm tendem a fragmentar o que hoje se entende por união monetária do grupo.

Não foi por puro egoísmo econômico que a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, advertiu que devem ser excluídos do bloco todos os países que ameaçam a estabilidade do euro. Ela quer mais do que unidade geográfica e retórica. Unidade para ela é o enquadramento ao jeito alemão de ser e de administrar a economia. Se não for assim, a menos que tudo termine em divórcio, algum outro jeito precisa ser encontrado para consolidar o euro, desde que garanta essa unidade.

As crises da Grécia e de Portugal, mais as que aparecerem no bloco, poderão ser estancadas momentaneamente por um expediente qualquer. Mas, se não for providenciado alicerce mais firme, mais cedo ou mais tarde, outras crises, eventualmente ainda mais graves, aparecerão.

Curiosamente, o atual enfraquecimento do euro não interessa aos Estados Unidos, que também enfrentam impactos sobre o dólar, embora de outra natureza. Ontem, o New York Times avisou, em editorial, que a desvalorização do euro prejudica a recuperação econômica do país na medida em que deixa mais baratos os produtos da zona do euro e cria obstáculos à expansão das exportações americanas.

Confira

Veja acima os principais números da economia de Portugal.

Capitalização da Petrobrás - Ontem, pela primeira vez, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, admitiu que o aumento de capital da Petrobrás pode acontecer de forma diferente da proposta pelo governo nos anteprojetos do marco regulatório do pré-sal.

Não ficou claro qual seria o modelo alternativo ao planejado pelo governo. Mas ficou evidente que algum reforço de capital terá de ocorrer nos próximos meses para possibilitar o aumento de endividamento da empresa (alavancagem), que está chegando ao limite de 35%.



loading...

- A Grécia Aguenta? - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 19/02/12 Quando tudo parecia consolidar a aprovação do acordo para o plano de austeridade cuja aprovação o primeiro-ministro da Grécia, Lucas Papademos (foto), arrancou do seu Parlamento, aumenta a percepção de que todo...

- Quebrar Ou Não Quebrar Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 24/09/11 Ontem, duas altas autoridades europeias admitiram, afinal, a quebra (default) da Grécia. Foram Klass Knot, diretor do Banco Central Europeu (BCE), representante da Holanda no Conselho; e ninguém menos que o ministro das...

- Solução Distante Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 20/08/11 O mercado financeiro não viu razões para apostar no sucesso da proposta de criação de um "governo econômico" para a área do euro. Essa foi a principal conclusão a que chegaram os dois mais importantes chefes de...

- Outra Vez, A Grécia Celso Ming
O Estado de S.Paulo Toda a área do euro ficou mais uma vez abalada por informações cujos veementes desmentidos não convenceram ninguém. Na última sexta-feira, a edição digital da revista alemã Der Spiegel não só avisou que a Grécia estudava...

- Celso Ming Socorro à Vista
O Estado de S.Paulo - 10/02/2010 Os mercados ontem apostaram uma boa porção de suas fichas em que um pacote econômico de resgate da Grécia esteja sendo preparado dentro da União Europeia. Se o pacote se confirmar, mais do que simplesmente um precedente,...



Política








.