Estadão
A presidente Dilma reconhece que há forte desânimo com o comportamento da economia. Mas isso vai mudar "quando novembro vier", avisou ela na semana passada.
Os gráficos ao lado refletem o índice de confiança nos principais setores da economia. Estão todos embicando para baixo, como narizes de um grupo de deprimidos.
Também em maio e junho de 2002, espalhava-se um quadro de desconfiança na economia, entre empresários e consumidores, plenamente identificado pelo então candidato Lula à Presidência da República. Mas a resposta que ele deu foi diferente do que esse novembro redentor para os espíritos. Assinou em junho daquele ano a Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometeu a puxar o superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) e a aumentar os juros para os níveis que fossem necessários para derrubar a inflação.
Foi o suficiente para que a confiança se restabelecesse e a eleição ficasse garantida, sem sobressaltos. Se a presidente Dilma se dispusesse a fazer algo com a mesma força, como alguns dos seus interlocutores já lhe sugeriram, seria altamente provável que boa parte do atual desacorçoamento fosse recuperada.
Mas a presidente Dilma pensa diferentemente. Parece não concordar com aqueles que identificam distorções e uma enorme desarrumação na economia. Apesar do crescimento econômico pífio e da inflação à altura dos 6% ao ano ao longo de todo seu mandato; apesar da voz das manifestações, inclusive nos movimentos sociais patrocinados pelo governo, como o MTST, ela acha que a política está certa e que a economia só precisa de alguma maquilagem e de mais do mesmo.
A acreditar no que afirmam e reafirmam as autoridades da área econômica, basta que a atividade produtiva mundial se recupere e que as condições climáticas adversas se revertam para que se consertem as mazelas da economia brasileira, o País volte a crescer de forma sustentável e a inflação reflua.
Lá se foi o tempo do presidente Lula, que fazia questão de alardear solidez da economia brasileira, tanta que a maior crise econômica mundial depois dos anos 30 produziu por aqui "apenas uma marolinha". As manifestações da presidente Dilma sugerem o contrário, que o marasmo interno, por exemplo, é reflexo do que acontece lá fora e já não consegue enfrentar a crise externa produzindo apenas marolinhas. Por isso, é incapaz de reerguer-se sozinha, já que é altamente dependente do que acontece lá fora.
Quando afirma que, após as eleições, todo o astral mudará, parece ter convicção de que basta exibir o capital político fornecido por uma reeleição para que o otimismo se restabeleça naturalmente, ainda que a recuperação global possa demorar mais alguma coisa.
O fato é que não há mais condições de manter uma política contracíclica, nem de aprofundar as desonerações, nem de derrubar os juros, nem de expandir o investimento a 22% ao ano, nem de corrigir o câmbio fora do lugar, nem para muitos outros consertos da economia, nem de estancar a desindustrialização, porque o Tesouro é uma panela raspada demais e o governo gasta além do que pode.
Enfim, a recuperação não cai do céu. Tem de ser conquistada com saneamento das despesas públicas. E isso é bem mais do que simplesmente esperar por novembro.