Silvia Rogar
Divulgação |
Por trás das câmeras Barreto abraça Glória Pires, que no filme é a mãe do presidente Lula |
VEJA TAMBÉM |
• Quadro: O drama de Fábio |
No sábado (19), pouco antes das 11 horas da noite, o cineasta Fábio Barreto, 52 anos, perdeu o controle de sua caminhonete Pajero e protagonizou um acidente de proporções cinematográficas. Barreto voltava do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro e passava em frente ao Cemitério São João Batista, em Botafogo, bairro da Zona Sul carioca. Quando se aproximou da entrada do Túnel Velho, no sentido Copacabana, o carro subiu no meio-fio, derrubou uma cerca e despencou de uma altura de 5 metros, caindo na pista oposta. Só não houve mais vítimas porque nenhum carro saía do túnel no momento da queda. Os investigadores ainda não sabem explicar o que aconteceu. Como não há marcas de freio no chão, é pequena a probabilidade de outro automóvel ter provocado o desastre.
O guarda-vidas Wagner Generoso, que testemunhou a cena e chamou socorro, disse à polícia que o carro estava em alta velocidade e que encontrou Barreto desacordado, sem cinto de segurança. O ci-neasta sofreu traumatismo craniano, foi mantido em coma induzido e passou a respirar com a ajuda de aparelhos. Foram diversas lesões traumáticas no cérebro, sendo a mais grave delas uma contusão no lobo temporal esquerdo – região localizada acima da orelha. Entre as principais funções relacionadas a essa área estão a memória e a compreensão da linguagem. O acidente aconteceu num momento decisivo na carreira do diretor. A estreia de seu filme Lula, o Filho do Brasil está marcada para 1º de janeiro, em 500 salas de exibição. Com um orçamento alto para os padrões nacionais (12 milhões de reais) e um roteiro talhado para mitificar o presidente, a cinebiografia é a maior aposta do diretor depois de uma série de experiências malsucedidas que se seguiu a O Quatrilho, indicado ao Oscar em 1996.
A batalha de Barreto pela sobrevivência ganhou contornos dramáticos. Resgatado por bombeiros e levado a um hospital municipal, ele foi submetido a uma cirurgia de emergência na madrugada seguinte ao acidente. Para aliviar a compressão causada pelo inchaço e manter a circulação de sangue no cérebro, os médicos retiraram a calota de praticamente toda a lateral esquerda de seu crânio. Essa estrutura óssea foi preservada entre a pele e o músculo do abdômen do cineasta. Transferido para um hospital particular, Barreto passou por mais duas intervenções cirúrgicas só na segunda-feira. Numa delas, os médicos puseram um cateter no ventrículo cerebral para ajudar no controle da pressão intracraniana e na redução do edema. Prevendo-se a respiração prolongada com a ajuda de máquinas, ele também foi submetido a uma traqueotomia. Até o fechamento desta edição, os médicos não faziam prognóstico sobre sequelas. A primeira semana é decisiva e a mais delicada na recuperação de pacientes que sofrem acidentes sérios como o dele. "Nossa preocupação é a própria vida do paciente", disse o neurocirurgião Paulo Niemeyer. Nesse estágio, o risco de infecções, como pneumonia e meningite, é alto. Em 2001, o mesmo time de médicos cuidou do cantor Herbert Vianna, quando seu ultraleve caiu no mar. Acreditava-se que a chance de reabilitação era praticamente nula. Hoje, no entanto, Herbert mostra notável recuperação.
Os desastres de trânsito são um problema mundial e devem ser encarados como questão de saúde pública – não apenas como fatalidade. Nos países que investem a sério na educação no trânsito e têm leis rigorosas para punir infrações, as taxas de acidentes são bem mais baixas (veja o quadro). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que até 50 milhões de pessoas por ano são vítimas do tráfego terrestre em todo o planeta – 1,2 milhão morrem. Para alterar esse cenário, é preciso abrir diversas frentes de prevenção, com rigorosa manutenção das vias públicas, fiscalização e conscientização de motoristas, pedestres e ciclistas. Por aqui, a implantação do Código de Trânsito Brasileiro, em 1998, e da Lei Seca, no ano passado, foi um passo importante para reduzir os índices de acidentes. Em 2008, o número de internações contabilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) caiu 20% nas capitais brasileiras em relação ao ano anterior. Por outro lado, as mortes em todo o país chegaram a 37 585, 27% mais que em 2000. Por enquanto, não há o que comemorar.