O Estado de S. Paulo - 17/07/2012 |
O Fundo Monetário Internacional (FMI), principal patrulha da economia mundial, publicou novo relatório nesta segunda-feira. Nele rebaixa suas projeções de crescimento do PIB global em relação às divulgadas em abril. A impressão que deixou foi a de que, embora mais pessimista, o FMI foi otimista demais. Prevê avanço da economia mundial de 3,5% em 2012 e de 3,9% em 2013 – enquanto a percepção geral é de desempenho pior do que esse. (As pequenas divergências entre esses números e os do gráfico se devem a diferenças entre bases de comparação.) No caso do Brasil, o FMI prevê avanço de 2,5% em 2012, muito alto ante projeções recentes que consideram dados mais atualizados. As cerca de cem instituições auscultadas semanalmente pelo Banco Central na Pesquisa Focus, por exemplo, apontam, em média, 1,9% de crescimento (veja o Confira) – número que pode ser menor nas próximas semanas. O relatório do FMI parece consciente da relativa precariedade das suas projeções ao trabalhar com pressupostos de difícil realização. Um deles é o de que a área do euro consiga colocar em marcha políticas destinadas a resolver sua crise. Outro, o de que decisões de afrouxamento dos países emergentes produzam resultados. Os maiores riscos, alerta o FMI, são, primeiramente, de que a zona do euro não chegue à união bancária – o que pressuporia a instalação de mecanismos de supervisão até o final deste ano no âmbito do Banco Central Europeu (BCE) e a consequente capitalização dos bancos. E, em segundo lugar, que divergências políticas nos Estados Unidos impeçam acordo sobre expansão da dívida. Se a dívida americana não puder superar o teto de US$ 14,3 trilhões, o país terá um cobertor orçamentário mais curto e a economia afundará na recessão. O FMI sugere que o BCE quebre de uma vez por todas suas resistências e volte a imprimir moeda para irrigar sua economia e, assim, ajude a baixar os juros cobrados no financiamento e no refinanciamento das dívidas soberanas da área. O ortodoxo FMI pede que o BCE não tenha medo de parecer irresponsável e que mergulhe na heterodoxia por meio da recompra de dívidas com emissão de euros. Em outras palavras, a pressão do FMI é de que o BCE enverede pelo caminho trilhado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que emitiu moeda para recomprar títulos do Tesouro dos Estados Unidos em duas operações de afrouxamento quantitativo. No entanto, a resistência a providências como essa não está localizada no BCE, mas no governo da Alemanha, que não aceita pagar um pedaço da dívida dos outros países do bloco. Assim, o FMI, que, no passado, foi tão rigoroso e intransigente quando os países mergulhados na crise da dívida eram latino-americanos ou asiáticos, agora se mostra bem mais flexível quando os superendividados são europeus. Mas essa nova flexibilidade do FMI não se atém às recomendações e às políticas exigidas. Transmite-se também às análises e, sobretudo, às projeções sobre o comportamento da economia mundial. Como os principais obstáculos à solução desses problemas não foram removidos, seguem as dúvidas de que, mesmo piores, esses resultados sejam alcançados. CONFIRA O gráfico mostra a evolução da percepção do mercado sobre o ritmo do crescimento do PIB neste ano. Consumo e desemprego. Contrariando previsões de pequena alta, as vendas ao varejo nos Estados Unidos em junho caíram 0,5% em relação a maio. Como no caso do ovo e da galinha, é difícil dizer o que vem primeiro – se a queda de consumo ou se o desemprego que, em maio, estava nos 8,2%. Na paradeira, os dois fatores se reforçam mutuamente. O empregador não contrata pessoal porque o consumo está fraco e o consumidor segura seu cartão de crédito porque teme o desemprego. |