Nos últimos dias, a imprensa divulgou intensamente a precária situação da qualidade do ensino no Brasil. Nos testes do Programa Internacional de Avaliação e Alunos (Pisa) estamos na 57.ª posição, entre 65 países pesquisados.
É verdade que aqueles testes mostraram uma pequena melhoria dos alunos brasileiros. Mas a corrida educacional é em direção a um ponto móvel. Os nossos concorrentes avançaram muito mais, mantendo o Brasil na posição em que estava em 2009. A China, em especial a província de Xangai, disparou na melhoria do desempenho do ensino. A Coreia do Sul continuou brilhando. Japão e Taiwan progridem cada vez mais. Os países do Leste Europeu estão bem melhores que o Brasil.
A baixa qualidade do ensino no Brasil tem um preço alto na concorrência global, disse a professora Maria Helena Guimarães Castro. Ela está coberta de razão, pois a educação de boa qualidade é a chave da produtividade, que, por sua vez, é a base da competitividade. O trabalhador brasileiro produz, em média, 25% do que produz o trabalhador alemão e 20% do que produz o americano. Tecnologia pesa, é claro. Mas a educação é crucial: o que realmente conta na eficiência de uma máquina moderna é a competência de quem a opera e a mantém.
Todas as pesquisas indicam que a qualidade da educação depende do que ocorre dentro das escolas, em especial nas salas de aula. No caso brasileiro, fala-se que o tempo de aula é insuficiente e que os professores são mal remunerados e não conseguem fazer os alunos apreenderem.
Tudo isso é verdade. Mas há uma agravante importante. Só em 2013, as greves de professores nas escolas estaduais e municipais somaram mais de 400 dias úteis, conforme informou o jornal Valor de 5/12/2013 - e o ano ainda não havia terminado. Com isso, mais de 1,5 milhão de alunos foram prejudicados, pois, enquanto os professores cruzavam os braços, as mentes dos estudantes ficavam na ociosidade. Só no Rio de Janeiro foram 80 dias perdidos. Se já é difícil ensinar com jornadas normais, imagine com as aulas suspensas!
Essa história de repor dias de aula durante as férias é tão necessária quanto utópica. Na prática, as faltas se transformam em dias perdidos mesmo, em que os alunos deixam de aprender. Nas negociações para terminar com a greve, os administradores e os professores fazem que acreditam numa reposição que nunca compensa o que se perdeu com as greves.
As principais reivindicações dos mestres se referem a aumentos salariais e melhores promoções nos planos de carreira. Nos movimentos grevistas, porém, não se pronuncia a palavra produtividade. Os sindicatos se recusam a atrelar os aumentos salariais e as promoções ao desempenho dos professores. Isso é muito grave.
A estimulação do mérito é crucial em qualquer campo e tem sido considerada seriamente nas negociações salariais dos professores em países avançados. É isso que ocorreu em 2013 nos Estados Unidos, na Alemanha, na Coreia do Sul e em outras nações. No Brasil, há não apenas um desprezo, mas, sobretudo, um aberto combate ao mérito. Recentemente, os sindicatos dos professores do Rio de Janeiro tiveram a coragem de desfilar na cidade durante a greve empunhando faixas que diziam "abaixo o mérito!".
Ou seja, ao problema da má remuneração e da falta de reconhecimento da carreira docente o Brasil soma o estrago de um sindicalismo corporativista que desconsidera inteiramente a razão de existir da escola: uma instituição para formar e estimular as novas gerações.
Para melhorar o ensino, não basta investir mais dinheiro, como promete fazer o governo no recém-aprovado Plano Nacional de Educação e com o uso dos recursos do pré-sal. O mais urgente é restabelecer a ética do trabalho entre os profissionais da educação. Isso não se compra com dinheiro, e, sim, com exemplos que devem ser dados de cima para baixo.