Como reduzir as mortes de motoqueiros no trânsito brasileiro? Conforme apontou esta Coluna no dia 30 de março, 14,6 mil motociclistas morreram em 2011 (40 por dia) em acidentes de trânsito no Brasil. Só para comparar, nesse mesmo ano, na Guerra do Afeganistão, houve 3.131 mortes de civis.
Aqui vão algumas sugestões de especialistas em saúde pública, segurança no trânsito e do próprio mercado de motos para enfrentar o problema.
Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), com base em ocorrências na zona oeste de São Paulo, concluiu que 67% dos motociclistas acidentados aprenderam a pilotar sozinhos e 45% conduziam motocicleta havia menos de dois anos. "Os acidentes ocorrem principalmente por despreparo e comportamento agressivo dos motociclistas", observa Júlia Maria Greve, autora da pesquisa Causas de Acidentes com Motociclistas, de 2013.
Ela recomenda que as autoescolas desenvolvam um trabalho de maior conscientização sobre segurança na condução das motos. "Também é preciso estimular a convivência pacífica. Os condutores dos outros veículos precisam entender que as motos chegaram para ficar."
O especialista em Educação e Segurança no Trânsito Eduardo Biavati pede alterações no processo de habilitação dos motociclistas: "O procedimento é antiquado e ultrapassado. É do tempo em que a motocicleta era apenas veículo de luxo e de lazer". Ele sustenta que a habilitação deveria ser progressiva. Assim, o motoqueiro só deveria ter permissão para percorrer vias de tráfego intensivo e mais perigoso depois que comprovasse maior experiência.
A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo) também defende a segmentação da Carteira Nacional de Habilitação por categoria de cilindrada. "É bem diferente conduzir uma moto 150 e outra 450. O processo de habilitação tem de ser mais rigoroso. Precisa preparar o condutor para situações de risco e de pilotagem defensiva", afirma José Eduardo Gonçalves, diretor executivo da Abraciclo.
Biavati lembra que outros países foram bem-sucedidos na redução das mortes de motociclistas em acidentes a partir de mudanças na sinalização e na própria engenharia do trânsito: "A moto tende a sumir da visão dos demais motoristas no cenário dos grandes centros urbanos. É preciso adotar intervenções que acomodem melhor a motocicleta nesse cenário".
Na Espanha, por exemplo, entre 2007 e 2011, os acidentes com mortes de motociclistas caíram 47%. O resultado foi alcançado depois que o departamento de trânsito incluiu, no processo de habilitação, exercícios de pilotagem defensiva e exames realizados em via pública. A infraestrutura viária também passou por melhorias para que as pistas proporcionassem maior aderência aos pneus das motos.
Signatário da resolução da ONU que instituiu a Década de Ação pelo Trânsito Seguro 2011-2020, o governo brasileiro tem seis anos para adotar as medidas necessárias para reverter o cenário de guerra que se instalou nas ruas daqui. / COLABOROU DANIELLE VILLELA