Política
Contas externas vão piorar Alberto Tamer
O Estado de S. Paulo - 15/07/2010 Há sinais de agravamento nas contas externas. Não só pela redução do superávit comercial insignificante, mas pela retração dos investimentos diretos e o aumento das remessas de lucros. Restam apenas os investimentos financeiros, em bolsa (instável) e renda fixa, atraentes pela elevada taxa de juros e remuneração do capital. Mas é uma dependência que, se antes apenas incomodava, agora preocupa. A soma desses fatores, com nítidos sinais de que já chegou a hora de, em vez de sair por aí criando uma estatal por dia, o governo deveria desonerar as empresas que quiserem investir mais para produzir aqui, atender ao mercado interno e exportar.
A política de estímulo aos investimentos diretos externos já deveria ter sido fixada há muito tempo, com a meta principal de sustentar o crescimento econômico e reduzir o déficit em conta corrente. Há as reservas de US$ 255 bilhões que garantem a solvência no exterior, mas não o aumento da produção industrial, que gera produção, emprego, renda, e divisas, quando exportada.
Ou seja, o governo está falhando em duas áreas vitais para um desempenho equilibrado das contas externas: estímulo ao investimento externo direto e comércio exterior, ambas afetadas pela crise financeira mundial e, agora, a crise europeia.
Novas tendências. Estaríamos diante de uma nova fase? O presidente da Sobeet, Luis Afonso Lima, que acompanha a evolução dos investimentos externos no Brasil, admite que, de fato, o balanço de pagamentos vem passando por significativas alterações não apenas quantitativas. Entre outras mudanças, ele aponta pelo menos duas tendências. "Primeiro, são os investimentos diretos de empresas brasileiras no exterior, que se internacionalizaram. No ano passado, elas repatriaram US$ 10 bilhões (em lucros e dividendos). Trata-se do maior retorno de Investimentos Brasileiros Diretos (IBD) em toda a série do Banco Central, iniciada em 1947.
Remessas vão aumentar. A segunda tendência, é o aumento das remessas de lucros e dividendos das subsidiárias de empresas estrangeiras instaladas no Brasil. Até maio, essas remessas totalizaram US$ 10.8 bilhões e os investimentos diretos US$ 11,4 bilhões, de acordo com o Banco Central. "Enquanto a economia brasileira continuar mostrando que as empresas transnacionais não podem prescindir de investirem no Brasil, os fluxos de remessas brutas tende a aumentar", afirma Luis Afonso Lima.
Não vai mudar. A conclusão da coluna é que o déficit em transações correntes vai aumentar por causa das remessas de lucros e dividendos e a queda do superávit comercial, entre outros fatores. Não assusta, ainda, mas começa a ficar mais sério.
As grandes empresas brasileiras continuarão investindo mais no exterior, proporcionalmente menos que as estrangeiras aqui. Esse é um fato novo que o atual governo deve enfrentar. Governo que tem acertado tanto aqui e errado tanto na área externa.
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