Política
Contas não fecham Merval Pereira
NOVA YORK. Faltando exatamente 12 dias para as eleições presidenciais, sendo que em vários estados a eleição antecipada já começou, com um amplo comparecimento, a disputa agora está resumida aos estados que não têm uma posição definida, os chamados “estados campos de batalha”, onde qualquer um dos dois partidos tem condição de se impor. O democrata Barack Obama tem aumentado sua votação em quatro estados que são considerados fundamentais — Nevada, Carolina do Norte, Ohio e Virginia —, estados em que George W. Bush venceu em 2004.
Um ponto importante para análise de tendências é a indicação de que Barack Obama está tendo uma votação crescente nos subúrbios pelo país, sinal de que está conseguindo erodir a liderança tradicional dos republicanos nesses nichos eleitorais. Os subúrbios dos Estados Unidos e suas derivações representam hoje cerca de 50% da população, e os seus eleitores foram considerados decisivos para a vitória de George Bush em 2004. Hoje, eles representam a parcela da classe média mais atingida pela crise, tanto pelo preço da gasolina quanto pela falta de crédito. Mesmo cidades em áreas rurais, mas ligadas às grandes metrópoles por auto-estradas, transformaramse em redutos dessa classe média que se refugiou no campo em busca de uma melhor condição de vida, com menos estresse e mais segurança. A população desses centros é majoritariamente branca, de trabalhadores de classe média com uma renda anual abaixo de US$ 75 mil, sendo que somente 17% têm renda acima de US$ 100 mil. O colunista do “New York Times” David Brooks, que publicou um livro sobre essas comunidades intitulado “On paradise drive” (“No paraíso do automóvel”, em tradução livre), registrou em recente coluna no jornal a transformação por que passam esses subúrbios, com os moradores mais preocupados com a má distribuição da renda e compreendendo melhor a necessidade de uma transformação da sociedade americana.
Os eleitores americanos, incluindo aí os suburbanos, diante da crise financeira, estariam mais inclinados a aceitar ações governamentais que visem a uma ajuda aos necessitados, mesmo que isso represente um aumento da ação do Estado.
Talvez esteja aí o grande obstáculo para uma reação de McCain, pois esses são redutos eleitorais considerados como apoios certos pela candidata a vice Sarah Palin, que se descreveu como uma “hockeymom” dos subúrbios, aquela que vai acompanhar o filho no jogo de hóquei no fim de semana.
O “populismo econômico”, traduzido por uma política fiscal mais frouxa, de gastar mais e tributar mais os mais ricos, tem sido a marca dos democratas nas últimas eleições congressuais.
E é devido a ele que chegaram à maioria do Congresso, que devem ampliar largamente nas eleições deste ano. Já o “populismo social”, a marca dos republicanos, atribui ao cidadão a responsabilidade de produzir riqueza para a sociedade, sem que o governo interfira.
Foi uma explicação de Obama baseada no “populismo econômico”, de usar os impostos dos que ganham mais para espalhar a riqueza pela sociedade, que fez Zé, o encanador, se rebelar contra os democratas e se tornar o emblema da campanha de McCain nas últimas semanas.
Mas, assim como o Zé não era nem encanador, também os eleitores conservadores parecem estar aceitando mais algumas medidas “socialistas” para amenizar a crise financeira.
Segundo as últimas pesquisas, Barack Obama teve ganhos em duas cidades que podem trazer os votos de Nevada e Carolina do Norte para os democratas, de acordo com o levantamento do site Politico/Insider Advantage. Os eleitores de Washoe County estão escolhendo Obama por 5 0 % a 4 0 % , e em Wake County ,na Carolina do Norte, onde estão Raleigh e seus subúrbios, Obama vence de 52% a 43%.
Os dois são os mais populosos condados de suas regiões. Para se ter uma idéia do que isso representa, George W. Bush venceu em ambos os condados em 2000 e 2004, apesar de que na reeleição a vitória tenha sido bastante apertada, já antecipando uma mudança de comportamento do eleitorado suburbano.
Esses dois estados tradicionalmente republicanos ainda estão em disputa, mas a boa performance dos democratas é um indício de que alguma coisa está mudando por lá. Mesmo com a atuação de Sarah Palin, ou talvez por causa dela, Obama está sendo o preferido das mulheres nesses dois condados.
Iowa, Novo México e Colorado, todos estados em que Bush venceu em 2004, já estão sendo dados por perdidos pela campanha de McCain. As contas estão sendo feitas pelos republicanos para tentar vencer a eleição sem esses estados tradicionais, mas, a cada colégio eleitoral que perdem, fica mais difícil a substituição dos votos para chegar aos mágicos 270 votos que dão a vitória no Colégio Eleitoral.
Mesmo perdendo Colorado, é possível ganhar, mas será preciso substituir os tantos votos eleitorais do estado por outros de um estado tradicionalmente democrata como Pensilvânia, com seus 21 delegados.
Ou vencer em Minnesota e Wisconsin, onde está perdendo por larga margem.
E não perder em Virginia, Nevada e Florida, estados “vermelhos” (republicanos) que estão a ponto de se tornarem “azuis” (democratas).
A conta está ficando cada dia mais difícil de fechar para McCain.
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