As incríveis listas de carros e iates apreendidos em
poder de um empresário suspeito de São Sebastião
e de uma máfia que atuava na saúde
Fotos Adriano Lima/Futura Press e Werther Santana/AE |
LUXO E CARA-DE-PAU A coleção de carros e motocicletas da recém-descoberta máfia da saúde: material de primeira com gente de quinta |
No jargão policial, diz-se freqüentemente a respeito de suspeitos de crime de corrupção, ou de outros delitos envolvendo dinheiro, que passaram a exibir "súbitos sinais exteriores de riqueza". Pois em São Sebastião, município no Litoral Norte de São Paulo, um empresário acusado de malfeitorias diversas levou a expressão ao paroxismo. Os sinais exteriores de riqueza de Andelmo Zarzur Júnior são impressionantes. Incluem, segundo a Polícia Federal: cinco BMW, três Ferrari, um Lamborghini, duas Pajero, três motocicletas, dez outros carros de marcas variadas, um helicóptero, treze lanchas e iates, uma ilha em Angra dos Reis e outros dez imóveis no estado de São Paulo. Parte dos carros e iates já foi apreendida pela polícia, outra ainda não foi localizada. A grande maioria dos bens, de acordo com a PF, não está em nome do empresário, mas de "laranjas".
Zarzur Júnior atuou como coordenador de campanha do prefeito de São Sebastião, Juan Pons Garcia, eleito em 2004 pelo PPS. Ele é suspeito de ser o testa-de-ferro do prefeito e de tê-lo ajudado a beneficiar o Riviera Group, do português Emídio Mendes, nos seus investimentos em São Sebastião. Mendes apareceu no noticiário – não econômico – pela primeira vez em 2005, revelado por VEJA como um dos "clientes" do protolobista e irmão do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá. Ele nega que tenha se associado a Zarzur Júnior para obter benefícios da prefeitura e diz que foi "enganado" pelo empresário.
No fim do mês passado, a Polícia Civil de São Paulo já havia prendido três empresários que também não faziam questão alguma de disfarçar a lucratividade de seus crimes. Suspeitos de integrar uma quadrilha especializada em fraudar licitações nos principais hospitais públicos de São Paulo, Rio, Minas e Goiás, eles são acusados também de colocar em risco a saúde pública. Isso porque, segundo os investigadores, os produtos que entregavam, além de superfaturados, eram de péssima qualidade e, muitas vezes, vinham em quantidade inferior à combinada. Subornando, superfaturando e vendendo gato por lebre, a quadrilha teria movimentado 100 milhões de reais só nos últimos dois anos. Em seu poder, a polícia apreendeu quase 1 milhão de reais em dinheiro, oito carros (Omega, Mercedes-Benz, Volvo, BMW, Vectra, Toyota Prado, Porsche e New Beetle), quatro motos (uma Honda Gold, duas Suzuki e uma Harley-Davidson), três iates e um helicóptero modelo Robinson 44. São episódios que mostram a inabalável fé que os corruptos têm na impunidade – e também a sua imensa cara-de-pau.