A liberação das remessas e viagens para a ilha pode
melhorar a vida dos cubanos comuns. A dúvida é como
os irmãos Castro responderão à boa vontade do presidente
Duda Teixeira
Carlos Barria/Reuters |
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Será possível que esteja para ruir o derradeiro bastião da Guerra Fria? Na segunda-feira da semana passada, o presidente Barack Obama liberou o valor das remessas de dinheiro e o número de viagens que os cubano-americanos podem fazer à ilha, cumprindo uma promessa de campanha. Também autorizou as empresas americanas a oferecer aos cubanos serviços de telefonia, inclusive conexões por fibra ótica com os Estados Unidos. O embargo comercial continua em vigor pelo menos até o assunto ser examinado pelo Congresso. Os irmãos Castro reagiram com cautela, mas não cuspiram na mão estendida. "Mandei dizer ao governo americano, em privado e em público, que estamos dispostos a discutir tudo, direitos humanos, liberdade de imprensa e presos políticos", disse Raúl em um discurso na Venezuela, na quinta-feira. Só o tempo dará a medida da sinceridade de suas palavras, mas não é prudente ver nelas o ponto de partida para uma transição para a democracia.
As medidas de Obama devem ser vistas mais como uma mudança de tática do que como uma reviravolta na política oficial – mas, ainda assim, seu valor simbólico é enorme. Embute a esperança de que o apoio material ao povo cubano e a oferta de conexão com o mundo exterior levem a uma distensão política. Os irmãos Castro podem ranger os dentes, mas desta vez será difícil se manterem turrões. O regime continua no controle, mas está fraco e exausto. Há racha entre os apparatchiks e a crise econômica internacional, combinada com três furacões no ano passado, deixou a ilha sem dinheiro em caixa. A dívida com os parceiros comerciais está perto de 30 bilhões de dólares e não há como pagar. Para piorar, com o declínio no preço do petróleo, fica difícil para Hugo Chávez manter o atual nível de subsídios que concede à ilha. O que Cuba quer dos EUA é fácil de enumerar: os dólares dos turistas americanos, mais crédito dos bancos internacionais e acesso ao FMI para negociar sua dívida externa.
Javier Galeano/AP |
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Nos Estados Unidos, os pragmáticos reconhecem que, da mesma forma que o embargo não foi capaz de derrubar o comunismo, uma abertura comercial dificilmente fará o serviço. Talvez apenas criasse um relacionamento similar ao existente com a China. Ou seja, os negócios são feitos apesar dos abusos chineses na área dos direitos humanos. A bola está agora com os cubanos. Mesmo que eles não façam nada, Obama pode dizer na 5ª Cúpula das Américas, que teve início na sexta-feira passada, em Trinidad e Tobago – e que tem Cuba como um de seus temas quentes –, que os EUA fizeram o primeiro gesto. "Se porventura a aproximação com os Estados Unidos falhar, o pior que pode ocorrer é não acontecer nada", disse a VEJA a analista política americana Sarah Stephens, diretora do centro de estudo Democracia nas Américas, em Washington.