Política
Da Bancoop ao mensalão EDITORIAL de O ESTADO DE SÃO PAULO
17/03/2010
As acusações ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, já não se limitam aos autos da investigação em curso no Ministério Público paulista sobre os malfeitos na Bancoop, que lesaram pelo menos 3 mil dos seus 8.600 mutuários. Conforme se noticiou, com base nas evidências coletadas pelo promotor José Carlos Blat, eles compraram imóveis na planta que ou foram entregues ainda crus ou nem sequer saíram do papel. Apenas 18 dos 46 empreendimentos foram concluídos. Segundo o promotor, os dirigentes da Bancoop ? a começar de Vaccari, que a presidiu de 2005 a fevereiro passado ? "sangraram os cofres da cooperativa em benefício próprio e também para fomentar campanhas políticas do PT". Ele calcula que o rombo é da ordem de R$ 100 milhões.
Nos últimos dias, enquanto Blat reúne informações adicionais que respaldem o seu pedido de quebra do sigilo bancário de Vaccari ? a Justiça negou a solicitação original e o bloqueio dos bens da Bancoop ?, a imprensa voltou a publicar denúncias contra o tesoureiro petista. Desta vez foram extraídas de depoimentos ao Ministério Público Federal do corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro, que vinculam Vaccari ao mensalão. Tomados entre 2005 e 2006, incriminam também o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Acusado de remeter ilegalmente para o exterior US$ 2 milhões, Funaro fez um acordo de delação premiada quando estava para ser denunciado como réu no processo sobre o maior escândalo do governo Lula. Funaro descreveu a engenharia financeira petista para abastecer o caixa 2 do partido ? de onde saíam os recursos do suborno a deputados federais e do pagamento dos custos de campanhas.
A crer no doleiro, era simples assim. Em 2003 e 2004, quando ainda diretor financeiro da Bancoop, Vaccari fazia a ponte entre o PT e os fundos de pensão das estatais, como Previ, Funcef e Petros. Nessa condição, ele intermediava negócios dos fundos com bancos, vantajosos para estes, porém prejudiciais para aqueles, desde que os beneficiados pingassem nas mãos do petista comissões de até 15%, as quais ele repassava para os cofres subterrâneos do partido. Sempre segundo Funaro, o padrão seria 12%. Vaccari não era um operador solitário. Trabalhava em sintonia com o então tesoureiro petista, Delúbio Soares ? ambos em sincronia com o ministro Dirceu, apontado como o cabeça da "organização criminosa". Em depoimento à CPI dos Correios em março de 2006, Funaro mencionou a participação de Vaccari no esquema, de que teria ouvido falar no mercado financeiro. Ficou por isso.
De José Dirceu, o doleiro contou que o então ministro induziu o fundo Portus ? também controlado pelo PT ? ao mau negócio de vender as suas participações em dois empreendimentos imobiliários em Santa Catarina. No primeiro caso, Dirceu teria recebido "por fora", dos compradores, R$ 500 mil. No segundo, a comissão seria de R$ 5 milhões. O seu advogado, José Luis de Oliveira Lima, considera as afirmações "levianas, desprovidas de qualquer documento". Além disso, Dirceu jamais teria tido contato com Funaro. Vaccari, por sua vez, assinala que, passados 5 anos do depoimento, "nunca fui chamado para prestar esclarecimentos". O Ministério Público Federal "não propôs ação contra mim. Nenhuma denúncia foi apresentada". De fato, há um problema tanto na história da Bancoop ? calçada, embora, em indícios objetivos ? como nas outras, que se amparam apenas na palavra de um "réu colaborador da Justiça".
O problema existe quando os procuradores não conseguem ver os seus procedimentos transformados em processos judiciais. Segundo a revista Veja, a parte do depoimento de Funaro que menciona Vaccari "ainda é guardada sob sigilo" no STF. Em São Paulo, vão para 3 anos as investigações sobre a Bancoop. A esta altura, de duas, uma: ou o caso já deveria ter sido encerrado ou despachado para a Justiça. Em situações do gênero, a divulgação de suspeitas ou alegações contidas em documentos a que a imprensa tem acesso apenas acentua a urgência com que elas devem chegar a um desfecho.
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